quinta-feira, 9 de maio de 2013

O DESCONFORTO DA COLONIZAÇÃO



A colonização do Brasil colônia não se restringiu a conquista do litoral e dos nativos que habitavam naquele território, pelo contrário, a conquista também se estendeu pelo interior, adentrando no desconfortável sertão, cercados de excessos e escassez, muito calor, muitos insetos, muitos animais ferozes ao lado de pouca água, segurança, comida, roupas e dentre outros que serão abordados brevemente.
Segundo Mary Del Priore, a maior parte da história da colonização ocorreu longe das instituições como a igreja e os conventos, até porque estes geralmente eram constituídos próximos ao litoral e não no interior da colônia, e depois de conquistado o litoral, restava-se a esses colonizadores desbravar o vasto território que se encontrava no interior, conhecer suas fronteiras e suas respectivas riquezas.
A missão de desbravar o nordeste iniciou-se em meio as mais diversas dificuldades que se possa pensar, logo, adentrar no sertão não era tarefa fácil, esta exigia certas adaptações e miscigenações de hábitos, expondo-se aos mais diversos perigos, muitos deles até desconhecidos, ficando estes sertanistas vivendo praticamente isolados, unidos em grupos, totalmente afastados da costa e das influências europeias, todos à mercê da natureza selvagem.
Para enfrentar o ritmo de vida sertanejo foi preciso fazer alterações, adaptações, unindo o modo de vida indígena ao europeu. A privacidade tornou-se algo praticamente impossível nas condições pelas quais estes desbravadores do sertão se encontravam, o isolamento significava perigo duplicado, a vida em grupo garantia o bem estar de todos.
Os bandeirantes estão entre os principais grupos de desbravadores do sertão e entre os mais conhecidos, estes se submeteram às inúmeras adaptações, assim como andar descalço, e a pé, logo o transporte a cavalo tornava-se quase impossível, pelo fato da vegetação rasteira, típico do nordeste não ser apta ao seu uso, além disso, a falta de mantimentos ao longo da viagem os fez encontrar na natureza fontes alimentícias que podiam ser encontrados na própria vegetação como frutas e animais, até cobras faziam parte do cardápio dos bandeirantes e de outros grupos que também tiveram no nordeste.
As mudanças dos bandeirantes resultaram não só em sofrimento, mas também em conhecimento, o poder das observações lhe rendeu um vasto conhecimento topográfico, capaz de identificar sinais de água ou de alimentos próximos à região em que se encontravam.
Além da caça e da coleta, estes grupos desenvolveram a atividade agrícola por onde encontravam boas condições climáticas e áreas propícias ao cultivo, para quando voltassem colhessem ou então outro grupo de sertanistas usufruísse, percebendo aqui uma preocupação coletiva e não apenas individual, logo, percebe-se que durante o período colonial a vida era constituída por ajuda mútua e não individualista.
Foi na natureza que o homem encontrou soluções para proteger-se da mesma, ou seja, contra chuva, mosquitos, animais ferozes, este foi o caso do “mosquiteiro”, isto é, um tipo de cobertura constituído de aninhagens por cima de uma corda que ficava nos mesmos paus em que estavam presas as redes.
 No meio natural foi possível encontrar animais que serviam de relógio orientando esses aventureiros no decorrer do dia, este foi o caso das aves ANHUPOCAS, assim como foi possível encontrar plantas medicinais que atuaram na cura de doenças que se desenvolvessem ao longo da expedição. Porém, o dom de cura também era atribuído a atuação dos santos, pois, como sabemos a vida religiosa era um dos pontos fundamentais da vida dos europeus daquele período.
Mas a ajuda dos santos e das plantas medicinais não garantia a vida eterna destes viajantes, logo, estes conservaram um enorme medo de morrer sem a benção de um líder religioso, temendo não alcançar a piedade divina e poder descansar em paz no reindo de Deus. Por isso junto com à pouca bagagem destes aventureiros era preciso que a expedição viessem acompanhada de um capelão, este seria uma garantia diante de tantos perigos que poderiam adiantar a hora da morte de alcançar a piedade divina.
Em meio às dificuldades de vida dos viajantes estavam também as condições de pouso, que poderiam acontecer, nos mais diversos e estranhos locais, podendo ser em fazendas, sítios, ranchos e até mesmo em cima de árvores em caso de situações em extremas de perigo. Não havia à escolha de um pouso determinado, até porque o trajeto a ser percorrido não se conhecia, se instalavam por onde dava, não importava se era confortável ou não, tudo seria uma consequência da viagem, era preciso improvisar meios de pouso.
O pouso tornou-se questão de boa vontade e de lucro. Muitas pessoas são se negavam a acolher estes viajantes em suas propriedades, porém, houve outras que vieram nos pousos bons negócios, fontes de lucro, e não demorou muito para que surgissem inúmeras estalagens ao longo dos caminhos, assim como também outros serviços.
Porém, os pousos que se davam em estalagens não significava conforto, muitos ofereciam serviços péssimos, muitos viajantes viram-se obrigados a consumir os mais terríveis gêneros. Mas também existiam aquelas estalagens consideradas ótimas, como foi o caso da estalagem CAMAPUÃ que foi considerada uma das melhores da região, oferecia distração aos exaustos viajantes, com festas e banquetes.
Diante do contexto exposto por Laura de Melo e Souza, foi possível perceber as dificuldades pelas quais os desbravadores do Brasil colônia se proporem a enfrentar. Os desafios foram muitos, o perigo foi algo constante. As condições de vida necessitavam de adaptações de escolhas e entre elas à de pôr de lado a própria privacidade em troca de sobrevivência e em busca de alcançar o êxito da missão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário