A
colonização do Brasil colônia não se restringiu a conquista do litoral e dos
nativos que habitavam naquele território, pelo contrário, a conquista também se
estendeu pelo interior, adentrando no desconfortável sertão, cercados de
excessos e escassez, muito calor, muitos insetos, muitos animais ferozes ao
lado de pouca água, segurança, comida, roupas e dentre outros que serão
abordados brevemente.
Segundo
Mary Del Priore, a maior parte da história da colonização ocorreu longe das
instituições como a igreja e os conventos, até porque estes geralmente eram
constituídos próximos ao litoral e não no interior da colônia, e depois de
conquistado o litoral, restava-se a esses colonizadores desbravar o vasto
território que se encontrava no interior, conhecer suas fronteiras e suas
respectivas riquezas.
A
missão de desbravar o nordeste iniciou-se em meio as mais diversas dificuldades
que se possa pensar, logo, adentrar no sertão não era tarefa fácil, esta exigia
certas adaptações e miscigenações de hábitos, expondo-se aos mais diversos
perigos, muitos deles até desconhecidos, ficando estes sertanistas vivendo
praticamente isolados, unidos em grupos, totalmente afastados da costa e das
influências europeias, todos à mercê da natureza selvagem.
Para
enfrentar o ritmo de vida sertanejo foi preciso fazer alterações, adaptações,
unindo o modo de vida indígena ao europeu. A privacidade tornou-se algo
praticamente impossível nas condições pelas quais estes desbravadores do sertão
se encontravam, o isolamento significava perigo duplicado, a vida em grupo
garantia o bem estar de todos.
Os
bandeirantes estão entre os principais grupos de desbravadores do sertão e
entre os mais conhecidos, estes se submeteram às inúmeras adaptações, assim
como andar descalço, e a pé, logo o transporte a cavalo tornava-se quase
impossível, pelo fato da vegetação rasteira, típico do nordeste não ser apta ao
seu uso, além disso, a falta de mantimentos ao longo da viagem os fez encontrar
na natureza fontes alimentícias que podiam ser encontrados na própria vegetação
como frutas e animais, até cobras faziam parte do cardápio dos bandeirantes e
de outros grupos que também tiveram no nordeste.
As
mudanças dos bandeirantes resultaram não só em sofrimento, mas também em conhecimento,
o poder das observações lhe rendeu um vasto conhecimento topográfico, capaz de
identificar sinais de água ou de alimentos próximos à região em que se
encontravam.
Além
da caça e da coleta, estes grupos desenvolveram a atividade agrícola por onde
encontravam boas condições climáticas e áreas propícias ao cultivo, para quando
voltassem colhessem ou então outro grupo de sertanistas usufruísse, percebendo
aqui uma preocupação coletiva e não apenas individual, logo, percebe-se que
durante o período colonial a vida era constituída por ajuda mútua e não
individualista.
Foi
na natureza que o homem encontrou soluções para proteger-se da mesma, ou seja,
contra chuva, mosquitos, animais ferozes, este foi o caso do “mosquiteiro”,
isto é, um tipo de cobertura constituído de aninhagens por cima de uma corda
que ficava nos mesmos paus em que estavam presas as redes.
No meio natural foi possível encontrar animais
que serviam de relógio orientando esses aventureiros no decorrer do dia, este
foi o caso das aves ANHUPOCAS, assim como foi possível encontrar plantas
medicinais que atuaram na cura de doenças que se desenvolvessem ao longo da
expedição. Porém, o dom de cura também era atribuído a atuação dos santos,
pois, como sabemos a vida religiosa era um dos pontos fundamentais da vida dos
europeus daquele período.
Mas
a ajuda dos santos e das plantas medicinais não garantia a vida eterna destes
viajantes, logo, estes conservaram um enorme medo de morrer sem a benção de um
líder religioso, temendo não alcançar a piedade divina e poder descansar em paz
no reindo de Deus. Por isso junto com à pouca bagagem destes aventureiros era
preciso que a expedição viessem acompanhada de um capelão, este seria uma
garantia diante de tantos perigos que poderiam adiantar a hora da morte de
alcançar a piedade divina.
Em
meio às dificuldades de vida dos viajantes estavam também as condições de pouso,
que poderiam acontecer, nos mais diversos e estranhos locais, podendo ser em
fazendas, sítios, ranchos e até mesmo em cima de árvores em caso de situações
em extremas de perigo. Não havia à escolha de um pouso determinado, até porque
o trajeto a ser percorrido não se conhecia, se instalavam por onde dava, não
importava se era confortável ou não, tudo seria uma consequência da viagem, era
preciso improvisar meios de pouso.
O
pouso tornou-se questão de boa vontade e de lucro. Muitas pessoas são se negavam
a acolher estes viajantes em suas propriedades, porém, houve outras que vieram
nos pousos bons negócios, fontes de lucro, e não demorou muito para que
surgissem inúmeras estalagens ao longo dos caminhos, assim como também outros
serviços.
Porém,
os pousos que se davam em estalagens não significava conforto, muitos ofereciam
serviços péssimos, muitos viajantes viram-se obrigados a consumir os mais
terríveis gêneros. Mas também existiam aquelas estalagens consideradas ótimas,
como foi o caso da estalagem CAMAPUÃ que foi considerada uma das melhores da
região, oferecia distração aos exaustos viajantes, com festas e banquetes.
Diante
do contexto exposto por Laura de Melo e Souza, foi possível perceber as
dificuldades pelas quais os desbravadores do Brasil colônia se proporem a
enfrentar. Os desafios foram muitos, o perigo foi algo constante. As condições
de vida necessitavam de adaptações de escolhas e entre elas à de pôr de lado a
própria privacidade em troca de sobrevivência e em busca de alcançar o êxito da
missão.
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