sexta-feira, 10 de abril de 2020

RESENHA: “FOUCAULT E A EDUCAÇÃO”


VEIGA NETO, Alfredo. Foucault e a Educação. 2 ed. Belo Horizonte: Autentica, 2007. 160 p.

“Foucault e a Educação” é um livro produzido por Alfredo José Veiga Neto. Ele é Graduado em História Natural (1964-1967) e em Música (1957-1963), tem Mestrado em Genética e Biologia Molecular (1972-1975) e é Doutor em Educação (1992-1996), toda sua formação foi na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde atualmente é professor no Programa de Pós-Graduação, coordenando o grupo de estudos e pesquisa em Currículo e Pós-Modernidade. Veiga tem experiência na área de Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: currículo, estudos foucaultianos, crítica pós-estruturalista e interdisciplinaridade. 
O livro, “Foucault e a Educação”, foi produzido pela Editora Autêntica e faz parte da coletânea Pesadores & Educação. A obra resenhada é da segunda edição, 2017, e possui 160 páginas. É resultado de diversos anos de pesquisas para a construção da sua tese de doutoramento, e nela ele se debruça acerca do filosofo francês, Michel de Foucault, e as suas contribuições para a área da educação. O livro inicia-se com uma apresentação, tem quatro partes e 10 capítulos. Ele é didático e conta com uma linguagem clara, nos ajudando a identificar o presente das práticas educacionais de maneira a problematizar as forças que as movem.
A primeira parte intitulada “Situando” possui apenas o capítulo 1. No primeiro capítulo “Situando Foucault” ele busca classificar o filosofo, apontando-o como o intelectual que melhor definiu as práticas e os saberes dos últimos séculos e a formação do sujeito moderno. Entretanto, o autor chama a atenção ao destacar que é mais válido falar em teorizações foucaultianas que em teorias foucaultianas. Está conduta evitaria dois equívocos: o primeiro é que o encaixe dos conceitos foucaultianos em toda e qualquer situação não é possível, pois é importante entender inicialmente que essas teorizações não devem ser encaixadas em todo ou qualquer objeto de investigação; e a segunda é pensar que todos os problemas de pesquisa estão livres no mundo esperando apenas uma teoria para serem investigados. E, apesar de Foucault ser um crítico da modernidade, isso não significa dizer que ele vá contra tudo que o pensamento moderno defende o que ele crítica na realidade é a ideia iluminista, unificadora da razão.
A segunda parte nomeada de “Domínios foucaultianos” vai do capítulo 2 até o capítulo 5. No segundo capítulo, “Os três Foucault? Ou a sempre difícil sistematização”, o autor aponta que normalmente o trabalho do filosofo é dividido três fases: arqueologia; genealogia; e ética. Contudo, ele explica que ao invés de usar as palavras fases ou eixos é mais recomendável usar a expressão “domínio”, que seriam: o ser-saber, o ser-poder e o ser-consigo. Esses domínios são mais bem explanados nos capítulos seguintes.
No terceiro capítulo, “O primeiro domínio: o ser-saber”, ele evidência os livros “As palavras e as coisas” e “A arqueologia do Saber” como os que melhor definem o primeiro domínio foucaultiano. No primeiro livro é onde a arqueologia aparece pela primeira vez, ela, nessa obra, pode ser chamada também de percepção para se referir a um saber que está além do conhecimento sistematizado. No segundo livro ele explicou como nos tornamos na modernidade sujeitos de conhecimento e assujeitados ao conhecimento, sendo assim o homem moderno não produz saberes, ele seria, neste caso, um produto dos saberes. Assim, não busca explicar os discursos, tão pouco a sua origem, procura as teias discursivas nas quais ele é formado.
No quarto capítulo, “O segundo domínio: o ser-poder”, ele procura explicar o processo de genealogia e a sua priori histórica, processo em que são as regras de produção de discursos que se encontram internas ao discurso. Formando, desse modo, não apenas os procedimentos necessários para entender o passado, mas também nos dando armas para nós revelarmos contra o presente. Os livros dessa fase são “A Ordem do Discurso”, “Vigiar e Punir” e “História da Sexualidade – A Vontade de Saber”.
No quinto capítulo, “O terceiro domínio: O ser-consigo”, o autor aponta que Foucault definiu esse domínio nos últimos anos da década de 1970 através da publicação de “História da Sexualidade” volumes dois e três. O interesse do filósofo estava em estudar a sexualidade e como foi que cresceu tanto a problematização em torno dela, para tanto, ele observou os saberes médicos, judiciais, sociológicos, entre outros. Assim, a ética se faz presente em seu estudo ao observar a moral, o comportamento, a origem dos códigos e as prescrições, percebendo a relação de si para consigo.
A terceira parte nomeada de “Temas foucaultianos” vai do capítulo 6 ao capítulo 8. No sexto capítulo, “Linguagem, discursos, enunciados, arquivos, episteme...”, o autor discorre sobre os conceitos que o próprio título do capítulo carrega, possibilitando ao leitor um melhor entendimento de suas teorizações. Nele também é citado as ideias de verdade e não verdade que um discurso pode compor.
No sétimo capítulo, “O sujeito”, temos a imagem do sujeito vista sobre a perspectiva de uma construção, esta motivada pelas práticas discursivas que convertem os seres humanos em sujeitos. Com isso, Foucault acredita que o sujeito não é algo pré-existente, mas sim construído. Está, defende o autor, talvez seja uma das contribuições mais importantes do filósofo para a educação, pois a escola é uma instituição produtora de sujeitos.
No oitavo capítulo, “O poder-saber”, Veiga aponta as articulações entre o saber e o poder. Está relação se deu ao perceber que os saberes vigentes atendem a uma vontade de poder e acabam se transformando em correntes propagadoras do próprio poder. Um poder que não é macro, mas sim micro, que não é fixo, é móvel, que pode estar presentes numa relação entre duas pessoas, quanto também podem partir de uma instituição. Isto é, o poder caminha por todas as esferas da sociedade, seja ela pública ou privada.
A quarta parte, “Tempos e lugares foucaultianos” vai do capítulo nove ao dez. São os menores capítulos do livro. No capítulo 9, “Cronologias foucaltianas”, o autor traz uma brevíssima reconstituição da vida privada e profissional de Foucault. No capítulo 10, “Sites de interesse na internet”, Veiga elenca uma série de sites que podem contribuir para. um estudo mais aprofundado sobre as questões foucaultianas.
“Foucault e a educação” é um livro que trás uma linguagem bastante acessível, além de citar e explicar um número considerável dos conceitos de maneira clara e objetiva evitando a rigidez de uma escrita travada. Ele contribui bastante em nossa reflexão sobre a educação vista sobre a lente de Foucault, nos fazendo refletir que nenhum sujeito é neutro e que para se construir ele é atravessado por vários feixes discursivos que são também vontades de saber e de poder.
Portanto, ele ilumina métodos, categorias, domínios, além de apontá-los dentro do diálogo educacional. Não se retendo a apenas as informações que esmiuçou durante o decorrer de sua escrita o autor faz uma importante contribuição de outras fontes que podem auxiliar o leitor a um maior aprofundamento das questões expostas. Assim, podemos considerar a sua avaliação de maneira positiva.
Recomento este livro para graduandos em cursos de licenciatura das mais diversas áreas de conhecimento, pois ele ajuda a observar o campo educacional com uma maior criticidade, permitindo enxergar o ser humano como sujeitos frutos de produções discursivas e, assim, entende-los como frutos de um grupo social. A partir do momento que enxergamos um aluno deste modo podemos planejar uma conduta profissional que tenha efeitos mais satisfatórios dentro da realidade escolar. Com a leitura de livros como esse, na graduação, construímos professores melhor preparados para a prática docente. Ele também é ideal para profissionais já licenciados que tem o interesse de se aprofundar nas maquinarias sociais movidas pelos discursos, pelo saber e pelo poder. E para todo pesquisador que se familiariza com as questões trazidas por Foucault.

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