sexta-feira, 10 de abril de 2020

A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE


A construção da identidade não é algo natural. É uma construção produzida em um local determinado, é partilhada por um grupo e por uma cultura composta de diversas práticas cotidianas, portanto, ela é relacional, dinâmica e histórica. A produção da identidade não ocorre do dia para a noite, não é definida por um comitê, ela vai se construindo através de práticas culturais, relações entre povos, jogos de poder, ao longo do temo.
O homem já nasce em uma cultura pré-definida e vai sendo moldado nela, absorvendo as verdades que vão se constituindo através da crítica de todos os discursos institucionais que o sujeito escuta durante a sua vida. O homem morre, porém a conservação da identidade, plural e diversificada, prossegue. É uma marca deixada pelo se humano da sua passagem pela terra. Não conseguimos viver sem classificar as pessoas e ordenar as coisas ou sem comparar o eu e o outro. E esta comparação é realizada de acordo com as diferença entre as identidades.
Só sabemos que existe uma diversidade de identidades devido à existência de outras identidades que marcam, evidenciam as diferenças, por isso, a relação com o outro é fundamental para a percepção dos grupos e, consequentemente, para marcar a exclusão. Isto, porque, dependendo dos conjuntos simbólicos que uma pessoa carrega podemos definir se ela pertence ou não a determinada identidade, então, nós podemos inclui-la ou exclui-la a determinado campo de pertencimento.
Para pertencer a uma identidade o individuo tem por obrigação fazer uso de objetos, de materiais que possuem sua carga de significados para eles, o que pode provocar conflitos entre identidades distintas, como bem coloca Woodward:

O cigarro [usados pelos servos e croatas] funciona, assim, neste caso, como um significante [grifo nosso] importante da diferença e da identidade e, além disso, como um significante que é, com frequência, associado à masculinidade (tal como na canção dos Rolling Stones, “Satisfaction”: “Bem, ele não pode ser um homem porque não fuma os mesmos cigarros que eu”) [...] O homem da milícia sérvia é explicito quanto a essa referência, mas menos direto quanto a outros significantes da identidade, tais como as associações com a sofisticação da cultura europeia [...] (WOODWARD, 2014, 10 p.).


O trecho acima nos chama a atenção, inclusive, há outro aspecto da identidade de uma nação: as questões de gênero. As maiorias das identidades estão ligadas as concepções de gênero, em que a força da influencia gira principalmente de maneira mais forte em torno das concepções militarista da masculinidade. Deste modo, as mulheres ocupam um espaço secundário tendo em vista que até mesmo a ideia do que é ser mulher, ser feminina, mãe, filha, irmã, foi construída de acordo com as posições de sujeito que o homem define para mulher. Nesta definição ele toma como pressuposto os padrões do que é ser masculino para definir o que é ser feminino, entrando, nesse contexto, mais uma vez, o outro, o diferente, para a percepção das múltiplas identidades, como bem aponta Woodward (2014):

A única menção a mulheres, neste caso, é às “garotas” que eles “namoravam”, ou melhor, que foram “namoradas” no passado, antes do surgimento do conflito. As mulheres são os significantes de uma identidade masculina partilhada, mas agora fragmentada e reconstruída, formando identidades nacionais distintas, opostas. Neste momento histórico específico, as diferenças entre os homens são maiores que quaisquer similaridades, uma vez que o foco está colocado nas identidades nacionais em conflito. A identidade é marcada pela diferença, mas parece que algumas diferenças - neste caso entre grupos étnicos - são vistas como mais importantes que outras, especialmente em lugares particulares e em momentos particulares (WOODWARD, 2014, 9-10 p.).

Portanto, pensar o outro sempre será uma comparação entre mundos. E estes mundos estão, a cada dia, mais próximos devido ao advento da globalização. Atualmente é possível, principalmente, nas grandes metrópoles e capitais, termos a disponibilidade de frequentar lojas e restaurantes que trazem elementos físicos e degustativos de outras regiões do mundo. Um contato mais próximo com o outro e a sua identidade.
Porém, de maneira geral, o cinema é um ponto central no deslocamento cultural visto que as imagens exibidas nas telas produzem diversos significados simbólicos que provocam desejos conscientes e inconscientes pela identidade do outro. Ele é uma ferramenta que nos desloca para a realidade do outro mesmo que este não esteja presente. Estes leques de representações de identidades revelam relações de poder, é um jogo entre culturas, em que as forças definem que identidades serão incluídas ou excluídas no jogo politico, assim como definem as identidades consideradas superiores e as que serão consideradas inferiores.
discuta sobre os modelos de análise, mas também sobre os efeitos culturais, simbólicos e políticos da produção da alteridade em relações de poder difusas, mas articuladas a estratégias de governo ou intervenção na vida pública. Quem é o outro? E por quais razões se pode pensar que ele é “uma ausência permanentemente presente” no mundo contemporâneo e no cenário educacional?

Quando partimos para o campo educacional
Por que falar dessas definições de professores para pensar o outro e a sua ausência presente no cenário de educação atual? Porque o professor ao analisar a educação com a ótica do presente vai levar em consideração os seus pressupostos culturais, a sua identidade particular, portanto, identificar as misérias das salas de aula com o olhar selecionador, com uma peneira que escolhe apenas aquilo que a sua identidade permite pensar como ruim. Assim, não apenas os professores, mas todos nos vemos:

o Outro, não de qualquer maneira, mas a partir do nosso patrimônio, a partir de nossa Consciência Humanitária, isto é, como “vítima” – a ser socorrida, com a qual solidariza-se, a ser liberada, à qual deve ser concedida a palavra, a ser integrada – ou como “culpável” – que  deve ser desmascarada, denunciada, dissuadida, perseguida, expulsa e justiçada – garantindo-nos assim o espetáculo de um Ocidente comprometido com “os direitos do homem” e com a humanização do mundo. (81 p.)

Pensar o outro com o olhar de alteridade é pensar o outro como objeto de ação que pode nos proporcionar, através do seu lugar de diferença, novos conhecimentos. No ocidente a identidade do outro, de uma cultura diferente poder ser capaz de emergir, mas diante de uma seleção em que nos o identificamos, registramos, o fazemos visíveis, apontamos as suas semelhanças e diferenças, que são cuidadosamente observados. Mas, nessa relação de escolher e definir há uma troca, pois ao mesmo tempo em que estamos observando a cultura do outro também o estamos dando um pouco da nossa cultura, inserindo “nossa miséria, nossa soberba, nossa arbitrariedade, nossa mortalidade e nossa finitude” (PLACER, 2001, 88 p.). Sendo assim, para pensá-lo temos que entender a nós mesmo, identificar sobre o que cremos, quem somos, nos revelarmos.

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