sexta-feira, 10 de abril de 2020

HERANÇA IMATERIAL (GIOVANNI LEVI) RESUMO DO CAPÍTULO 3. HISTÓRIAS DE FAMÍLIA: OS NÚCLEOS PARENTAIS.


Este capítulo é dividido em oito partes. No primeiro ponto veremos que o autor faz que um levantamento em relação ao território e ao tempo em que foi observado. Neste caso foi retratado o território de Santena durante o século XVII. Para tanto, foram analisados cerca de 32000 ocorrências documentadas, entre elas, os documentos de nascimento, casamento, morte, compra, falência, colheita, homicídios, entre outros. Entretanto, como existiam muitas lacunas e as fontes raramente entravam em consenso foi realizada uma reconstrução imaginada de como tudo se desenvolveu, pois pouco se sabe dos motivos e dos acontecimentos que levaram as pessoas a procurarem o exorcista Giovan Battista. É importante salientar que de todos os documentos vistos a maioria, quase de maneira unânime, não são representados os pobres, às mulheres, e as crianças. E quando os são ocorre de maneira passiva.
No segundo ponto o autor fala um pouco das características do território. Apontando-o como autônomo e de status ambíguo. Era localizado em uma planície de leve declínio. Não temos como ter certeza do número de famílias que lá estavam, porém eram em média sessenta famílias e em seis delas as mulheres que chefiavam a casa. Apenas uma família era definida como miserável.
No terceiro ponto o autor abordou as propriedades e as características das terras de Santena, as definido como aráveis e de quatro categorias. Os melhores terrenos estavam nas mãos dos senhores ou eram de patrimônio eclesiástico, administrados por meio de cultura de parcerias. Abaixo dos proprietários mais ricos e dos arrendatários existia um grande número de camponeses, esses que praticavam um plantio de subsistência e também outras atividades como a do setor têxtil.
No quarto ponto o autor chamou a atenção para o discurso sobre a estratificação social ao afirmar que ela não pode ficar limitada apenas as dimensões das propriedades, e nos conduz para uma compreensão ainda maior que é as das estratégias familiares complexas. Estas que poderiam resultar em mecanismos fatais, que definiam a sobrevivência ou o desaparecimento de uma família.
Do lado oposto as redes formais das relações de consanguinidade ou de alianças existiam complexas estratégias de escolha, de integração, que formavam um organismo familiar elástico. Estas estratégias poderiam definir a vida ou a morte. Eram estruturas familiares, mecanismos, redes de amizade, vínculos formados em linhas verticais de dependência. Portanto, neste contexto podemos definir a família como uma comunidade de resistência, formada por solidariedade a fim de possuir fontes de favores e trocas de informação, assim as análises das famílias de Santena foram além das residências.
No quinto ponto foi retratada a família de Geovan Batista Peroni. Ele casou com Lúcia após a peste de 1630. Tiveram muitos filhos. Morreu jovem e a condição para herança dos filhos foi permanecerem juntos sobre o comando do primogênito que era Giovan Domenico. Ele acabou sendo visto pelos demais como um pai. Mais tarde Secondo e Bernadino passaram a cuidar de Vignosso, e Giovan Domenico e Giovannini cuidaram do Broglia. E a força do grupo consanguíneo continuou intacta, pois ela estaria, neste caso, ligada a separação das residências. Entretanto viver junto poderia não significar viver na mesma casa, por isso, a eles ainda era dado o direto a herança.
Outros dois membros da família, Antônio e Giovani, eram perseguidos pela justiça criminal, pois eram desgraçados aos olhos do príncipe por um motivo ao qual não temos conhecimento. Tiveram que viver fora da comarca. Foi um período difícil para família também por outros acontecimentos. Giovan Domenico morreu, mas antes disso fez um testamento que proibia os filhos de se dividirem antes de completar 22 anos. Quem fosse embora era excluído da herança.
Eles ficaram sob a tutela do tio Gioannino. Então houve uma troca de terras Bernardino e Secondo se mudaram para Broglia, que era maior, e Gioannino com os filhos e os sobrinhos passaram a trabalhar em Vignasso. Em 1681 Antônio e o sobrinho Giovan receberam indulgência e voltaram.
Os anos de 1690 foram bastante difíceis, pois foi um ano de crises dramáticas, período de guerras, más colheitas e o mau tempo que durou muitos anos. Em 1693 morreu Gioannino e Antônio se tornou o novo chefe da família. Em 1701 morreu Antônio deixando seis sobrinhos adultos e os seus três filhos. O novo chefe da família passa a ser Giovan Battista Chiessa, o mais velho dos sobrinhos. Com isso, podemos perceber formas elásticas que se adaptam as situações que o ciclo da vida, os acontecimentos políticos e econômicos provocam. Esses indivíduos são conscientes das margens de imprevisibilidade e, por isso, era uma sociedade em busca de segurança, eram pessoas estratégicas e ativas.
Porém não podemos deixar de destacar que existiam rivalidades pelos contratos e jogos complexos entre propriedades que quebram esta rede que aparentemente é estável. Outro ponto que vai destacar é sobre a exclusão das mulheres no processo de herança que era bastante nítido. Até mesmo os dotes eram incompatíveis com o nível de riqueza que a família possuía. Eram entre 100 e 200 linhas. Algumas mulheres, inclusive, têm um papel muito forte na família, quando o marido morria deixava garantida a ela uma rica alimentação e a tutela dos filhos menores ao lado do cunhado que assumia o papel de chefe da família.
Como podemos ver no caso dos Perone a posse de terra foram fundamentais durante as crises e ao longo de todo o processo de vida deste grupo de irmãos como, por exemplo, a perseguição da Justiça, as mortes precoces dos homens adultos, e o excesso de filhos e sobrinhos a serem sustentados. Assim, o mundo mental no qual teve lugar à pregação de Chiesa era uma sociedade que estava em busca de segurança.
No sexto ponto o autor fala de outras grandes famílias de arrendatários. Os Mosso tiveram a estratégia ainda mais rica, além de combinar arrendamento eles também tiveram encargo de agentes de um senhor feudal residente em Chieri. Entretanto basicamente seguiam o mesmo modelo familiar do grupo anteriormente exposto.
No sétimo ponto é retratada a história dos Domenino. Augusto Domenino morreu bastante velho deixando duas filhas e um filho Giovan Mateo. É um núcleo isolado e, portanto, tem um equilíbrio inseguro, porém não impediu que Giovan Mateo continuasse o trabalho do pai na mesma terra. Na época da morte do pai ele tinha apenas um filho que carregava o nome do avô e nas mesmas terras vivia outra família de arrendatários.
Depois de quatro anos da morte do pai Giovan começa uma disputa com Giacomo Gillio, o vizinho, este embate acabou em uma agressão física na qual resultou em uma ferida e posteriormente na morte de Giovan. Não se sabe o motivo da briga. Giovan deixou a sua mulher viúva, Maria, com os dois filhos, um menino e uma menina, ela ficou como titular do contrato de colonato e teve também que pagar todas as dívidas que ficaram do marido, inclusive da herança que cabia as suas duas irmãs, 50 liras para cada uma, conforme o testamento paterno.
Maria pagou todas as dívidas e continuou vivendo ao lado do homem que matou o seu marido e foi assinado um acordo para a convivência e, assim, a briga teve fim. Maria começou a investir em um estábulo. Terra onde ela poderia viver uma vez terminado o arrendamento. Ela encontrou outra forma de investimento o empréstimo de dinheiro. Uma boa parte do dinheiro que a mãe dela deixou para o seu neto ainda menor de idade acabou por torna-la uma das mais importantes protagonistas da rede de crédito necessário às famílias camponesas para pagamento dotes e outro.
Em 1683, a sua filha Ana Marguerita casou-se com Giuseppe Burso e passou a ter direito, além do dote, a metade dos bens pai que com a morte prematura não havia sido permitido que ele fizesse um testamento que a excluísse da herança como era de costume. Pois as mulheres acabavam por fazer parte de outra estirpe.
Maria se encontrou em dificuldade juntamente com filho iniciando uma briga com Ana. Entretanto, a terra foi dividida e a Ana foi entregue 1200 liras de créditos e promissórias. O filho Agostino já era maior de idade. A terra era pouca para se viver e as mãos insuficientes para cultivá-las. Chegou o momento de pensar em uma sucessão. Mas as recentes Desventuras não permitiram que Agostinho conseguisse um bom matrimônio ele acabou por ficar com uma moça pobre, sem dote e com pouco enxoval. Ela logo engravidou e trouxe ao mundo um filho. Poucos dias depois soldados invadiram e saquearam a casa na qual moravam e onde a sua esposa ainda se recuperava do parto. Agostino foi morto e 15 dias depois morria também o filho recém-nascido. Maria já velha não apareceu mais os documentos. Ela se perguntava sobre sua falta de sorte e encontrou no demônio a explicação, ele a tinha possuído e por esse motivo se fez exorcizar por Giovanni Battista. Caderninho das libertações ela foi registrada na data 17 de julho de 1697.
No ponto oito o autor esquematiza o comportamento desse grupo caracterizando por alguns itens:
a. Aliança entre famílias co-residentes, laços de linhagem masculina.
b. Diversificação das atividades entre arrendamentos e pequena propriedade.
c. qualificação profissional de um membro da família.
d. Dependência clientelar.
e. Estratégia do dote.
 f. A endogamia.
g. A tutela e usufruto.
h. Os atos criminosos e as manifestações de hostilidade em relação a pessoas externas ao grupo parental são assumidas como responsabilidade coletiva sem que haja uma exclusão do réu ou uma diminuição do prestígio do grupo como um todo.

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