Este capítulo é dividido em
oito partes. No primeiro ponto veremos que o autor faz que um levantamento em
relação ao território e ao tempo em que foi observado. Neste caso foi retratado
o território de Santena durante o século XVII. Para tanto, foram analisados
cerca de 32000 ocorrências documentadas, entre elas, os documentos de
nascimento, casamento, morte, compra, falência, colheita, homicídios, entre
outros. Entretanto, como existiam muitas lacunas e as fontes raramente entravam
em consenso foi realizada uma reconstrução imaginada de como tudo se
desenvolveu, pois pouco se sabe dos motivos e dos acontecimentos que levaram as
pessoas a procurarem o exorcista Giovan Battista. É importante salientar que de
todos os documentos vistos a maioria, quase de maneira unânime, não são representados
os pobres, às mulheres, e as crianças. E quando os são ocorre de maneira
passiva.
No segundo ponto o autor
fala um pouco das características do território. Apontando-o como autônomo e de
status ambíguo. Era localizado em uma planície de leve declínio. Não temos como
ter certeza do número de famílias que lá estavam, porém eram em média sessenta
famílias e em seis delas as mulheres que chefiavam a casa. Apenas uma família
era definida como miserável.
No terceiro ponto o autor
abordou as propriedades e as características das terras de Santena, as definido
como aráveis e de quatro categorias. Os melhores terrenos estavam nas mãos dos
senhores ou eram de patrimônio eclesiástico, administrados por meio de cultura
de parcerias. Abaixo dos proprietários mais ricos e dos arrendatários existia
um grande número de camponeses, esses que praticavam um plantio de subsistência
e também outras atividades como a do setor têxtil.
No quarto ponto o autor
chamou a atenção para o discurso sobre a estratificação social ao afirmar que
ela não pode ficar limitada apenas as dimensões das propriedades, e nos conduz
para uma compreensão ainda maior que é as das estratégias familiares complexas.
Estas que poderiam resultar em mecanismos fatais, que definiam a sobrevivência
ou o desaparecimento de uma família.
Do lado oposto as redes
formais das relações de consanguinidade ou de alianças existiam complexas
estratégias de escolha, de integração, que formavam um organismo familiar
elástico. Estas estratégias poderiam definir a vida ou a morte. Eram estruturas
familiares, mecanismos, redes de amizade, vínculos formados em linhas verticais
de dependência. Portanto, neste contexto podemos definir a família como uma comunidade
de resistência, formada por solidariedade a fim de possuir fontes de favores e
trocas de informação, assim as análises das famílias de Santena foram além das
residências.
No quinto ponto foi
retratada a família de Geovan Batista Peroni. Ele casou com Lúcia após a peste
de 1630. Tiveram muitos filhos. Morreu jovem e a condição para herança dos
filhos foi permanecerem juntos sobre o comando do primogênito que era Giovan
Domenico. Ele acabou sendo visto pelos demais como um pai. Mais tarde Secondo e
Bernadino passaram a cuidar de Vignosso, e Giovan Domenico e Giovannini
cuidaram do Broglia. E a força do grupo consanguíneo continuou intacta, pois
ela estaria, neste caso, ligada a separação das residências. Entretanto viver
junto poderia não significar viver na mesma casa, por isso, a eles ainda era
dado o direto a herança.
Outros dois membros da
família, Antônio e Giovani, eram perseguidos pela justiça criminal, pois eram
desgraçados aos olhos do príncipe por um motivo ao qual não temos conhecimento.
Tiveram que viver fora da comarca. Foi um período difícil para família também
por outros acontecimentos. Giovan Domenico morreu, mas antes disso fez um
testamento que proibia os filhos de se dividirem antes de completar 22 anos.
Quem fosse embora era excluído da herança.
Eles ficaram sob a tutela do
tio Gioannino. Então houve uma troca de terras Bernardino e Secondo se mudaram
para Broglia, que era maior, e Gioannino com os filhos e os sobrinhos passaram
a trabalhar em Vignasso. Em 1681 Antônio e o sobrinho Giovan receberam
indulgência e voltaram.
Os anos de 1690 foram
bastante difíceis, pois foi um ano de crises dramáticas, período de guerras, más
colheitas e o mau tempo que durou muitos anos. Em 1693 morreu Gioannino e
Antônio se tornou o novo chefe da família. Em 1701 morreu Antônio deixando seis
sobrinhos adultos e os seus três filhos. O novo chefe da família passa a ser
Giovan Battista Chiessa, o mais velho dos sobrinhos. Com isso, podemos perceber
formas elásticas que se adaptam as situações que o ciclo da vida, os
acontecimentos políticos e econômicos provocam. Esses indivíduos são
conscientes das margens de imprevisibilidade e, por isso, era uma sociedade em
busca de segurança, eram pessoas estratégicas e ativas.
Porém não podemos deixar de
destacar que existiam rivalidades pelos contratos e jogos complexos entre
propriedades que quebram esta rede que aparentemente é estável. Outro ponto que
vai destacar é sobre a exclusão das mulheres no processo de herança que era
bastante nítido. Até mesmo os dotes eram incompatíveis com o nível de riqueza
que a família possuía. Eram entre 100 e 200 linhas. Algumas mulheres, inclusive,
têm um papel muito forte na família, quando o marido morria deixava garantida a
ela uma rica alimentação e a tutela dos filhos menores ao lado do cunhado que
assumia o papel de chefe da família.
Como podemos ver no caso dos
Perone a posse de terra foram fundamentais durante as crises e ao longo de todo
o processo de vida deste grupo de irmãos como, por exemplo, a perseguição da
Justiça, as mortes precoces dos homens adultos, e o excesso de filhos e
sobrinhos a serem sustentados. Assim, o mundo mental no qual teve lugar à
pregação de Chiesa era uma sociedade que estava em busca de segurança.
No sexto ponto o autor fala
de outras grandes famílias de arrendatários. Os Mosso tiveram a estratégia
ainda mais rica, além de combinar arrendamento eles também tiveram encargo de
agentes de um senhor feudal residente em Chieri. Entretanto basicamente seguiam
o mesmo modelo familiar do grupo anteriormente exposto.
No sétimo ponto é retratada
a história dos Domenino. Augusto Domenino morreu bastante velho deixando duas
filhas e um filho Giovan Mateo. É um núcleo isolado e, portanto, tem um
equilíbrio inseguro, porém não impediu que Giovan Mateo continuasse o trabalho
do pai na mesma terra. Na época da morte do pai ele tinha apenas um filho que
carregava o nome do avô e nas mesmas terras vivia outra família de
arrendatários.
Depois de quatro anos da
morte do pai Giovan começa uma disputa com Giacomo Gillio, o vizinho, este
embate acabou em uma agressão física na qual resultou em uma ferida e
posteriormente na morte de Giovan. Não se sabe o motivo da briga. Giovan deixou
a sua mulher viúva, Maria, com os dois filhos, um menino e uma menina, ela
ficou como titular do contrato de colonato e teve também que pagar todas as
dívidas que ficaram do marido, inclusive da herança que cabia as suas duas
irmãs, 50 liras para cada uma, conforme o testamento paterno.
Maria pagou todas as dívidas
e continuou vivendo ao lado do homem que matou o seu marido e foi assinado um
acordo para a convivência e, assim, a briga teve fim. Maria começou a investir
em um estábulo. Terra onde ela poderia viver uma vez terminado o arrendamento. Ela
encontrou outra forma de investimento o empréstimo de dinheiro. Uma boa parte
do dinheiro que a mãe dela deixou para o seu neto ainda menor de idade acabou
por torna-la uma das mais importantes protagonistas da rede de crédito
necessário às famílias camponesas para pagamento dotes e outro.
Em 1683, a sua filha Ana Marguerita
casou-se com Giuseppe Burso e passou a ter direito, além do dote, a metade dos
bens pai que com a morte prematura não havia sido permitido que ele fizesse um
testamento que a excluísse da herança como era de costume. Pois as mulheres
acabavam por fazer parte de outra estirpe.
Maria se encontrou em
dificuldade juntamente com filho iniciando uma briga com Ana. Entretanto, a
terra foi dividida e a Ana foi entregue 1200 liras de créditos e promissórias.
O filho Agostino já era maior de idade. A terra era pouca para se viver e as
mãos insuficientes para cultivá-las. Chegou o momento de pensar em uma sucessão.
Mas as recentes Desventuras não permitiram que Agostinho conseguisse um bom
matrimônio ele acabou por ficar com uma moça pobre, sem dote e com pouco
enxoval. Ela logo engravidou e trouxe ao mundo um filho. Poucos dias depois
soldados invadiram e saquearam a casa na qual moravam e onde a sua esposa ainda
se recuperava do parto. Agostino foi morto e 15 dias depois morria também o
filho recém-nascido. Maria já velha não apareceu mais os documentos. Ela se
perguntava sobre sua falta de sorte e encontrou no demônio a explicação, ele a tinha
possuído e por esse motivo se fez exorcizar por Giovanni Battista. Caderninho
das libertações ela foi registrada na data 17 de julho de 1697.
No ponto oito o autor
esquematiza o comportamento desse grupo caracterizando por alguns itens:
a. Aliança entre famílias
co-residentes, laços de linhagem masculina.
b. Diversificação das
atividades entre arrendamentos e pequena propriedade.
c. qualificação profissional
de um membro da família.
d. Dependência clientelar.
e. Estratégia do dote.
f. A endogamia.
g. A tutela e usufruto.
h. Os atos criminosos e as
manifestações de hostilidade em relação a pessoas externas ao grupo parental
são assumidas como responsabilidade coletiva sem que haja uma exclusão do réu
ou uma diminuição do prestígio do grupo como um todo.
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