sexta-feira, 10 de abril de 2020

RESENHA DO CAPÍTULO A IMPORTÂNCIA DA CULTURA MATERIAL E DA ARQUEOLOGIA NA CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA


AZEVEDO-NETTO, Carlos Xavier de; SOUZA, Amilton Justo de Souza. A importância da cultura material e da Arqueologia na construção da História. História Unisinos. v. 14 n. 1, p. 62-76, jan./abr. 2011.

O artigo intitulado “A importância da cultura material e da Arqueologia na construção da História” foi publicado pela revista História Unisinos, volume 14, número 1, edição de janeiro/ abril do ano de 2011. A revista pública pesquisas realizadas no campo dos estudos da história da latino-américa de maneira interdisciplinar. O texto resenhado é uma versão ampliada, revista e alterada da monografia produzida por Amilton Justo de Souza, cujo título é “A importância da Arqueologia para a Construção da História”. A pesquisa, que resultou no artigo, discute a relevância da cultura material como fonte documental que auxilia a construção da história. A sua organização está disposta em alguns subtítulos, que são: algumas limitações do documento escrito; vestígios materiais e construção da história; cultura material e práticas cotidianas; e a representação e interpretação na cultura material. O texto completo tem um total de 15 páginas. A escrita da História durante muitos anos utilizava como fonte histórica exclusivamente o documento escrito, tendo em vista que, documentos oficiais eram os únicos considerados como confiáveis e dignos de contar a “verdade”. Os demais vestígios arqueológicos eram entendidos como um complemento, eles serviam de ilustração do que era narrado pelas fontes escritas. A partir do século XIX, a forma de escrever e contar a história começa a passar por mudanças devido à escola dos Annales, pois ela passa a ampliar o domínio do historiador ao definir consideravelmente outros objetos que passaram a serem fontes históricas. Então, ela introduz nesse conjunto a cultura material, indo, desse modo, de encontro à história positivista. Tínhamos, assim, a história tradicional contra a história nova. Este movimento gerou uma expansão extraordinária do que era definido como documento, saindo apenas do escrito e partindo para outros documentos como, por exemplo, os produtos de escavação arqueológica, resultando em, por parte do historiador, um diálogo com o trabalho do arqueólogo e da cultura material. Os autores defendem que existem algumas características que mostram limitações entre as fontes escritas e as fontes materiais. Entre elas temos a capacidade que a cultura material tem de resistir ao tempo, pois o texto escrito tem uma deterioração mais rápida, e o fato de que os documentos escritos, durante os períodos da história, não registram muitos grupos sociais, se preocupavam apenas em narrar os feitos das elites. Com isso, por meio dos estudos das fontes materiais tornou-se possível observar e registrar a história desses grupos negligenciados pela historiografia. Então, podemos compreender que através dessas mudanças vamos ter uma aproximação entre a arqueologia e a história quando o historiador faz uso da cultura material para explicá-la. Além disso, eles compartilham um mesmo objeto de estudo que seria o estudo das características da sociedade, tanto no passado, quanto no presente, pois, a arqueologia também pode ser considerada uma ciência dos objetos. Entretanto, como qualquer outro documento, os arqueológicos só podem nos contar sobre o passado quando questionados. E quando os interrogamos eles nos contam uma história que desafia as classes dominantes, por ter a capacidade de trazer a tona enredos de resistência, de povos que não tem visibilidade nos documentos escritos, colocando as massas em primeiro plano. Já a relação da prática cotidiana e a cultura material devem ser entendidas como uma estratégia para aproximar a arqueologia da história. Os vestígios históricos deixados pelas práticas cotidianas vão recuperar as evidências de hábitos, de mentalidades, sensibilidades realizadas na vida dos antepassados. A construção desse conhecimento se dá através da representação. Ela está intimamente ligada à cultura material, pois esta tem um caráter de identidade e de memória. Para tanto, os autores fazem uma discussão acerca do ato de representação e usam alguns pensadores como aporte teórico como, por exemplo, Santaella e Noth, para dividi-la em duas partes fundamentais que seriam a representação mental e a representação pública (que é o conjunto em que a cultura material se encaixaria devido ao espaço onde ela foi produzida e as relações dos sujeitos que dela faziam uso).  Portanto, as fontes materiais funcionam como um objeto que traz, através da sua interpretação, a representação de uma identidade existente em um determinado recorte espacial e temporal. Desse modo, ele não é mais visto apenas como um registro arqueológico passível de descrição, mas também como um testemunho do passado. Para finalizar, os autores apontam a importância de sempre, quando for possível, estudar as fontes materiais juntamente com a fonte escrita, pois nesses casos uma pode completar a outra ao trazer a voz das classes exploradas. Este artigo é uma importante contribuição acadêmica, porque conduz a um debate de extrema relevância que, porém, é pouco realizado nas instituições de ensino superior. Ele nos faz refletir sobre a cultura material de uma maneira em que amplia o sentido tanto da forma de como escrever a história, como da forma de contar a história. Nós fazendo questionar: enquanto professores de história, nos estamos utilizando as fontes históricas adquiridas através do trabalho do arqueólogo meramente como ilustração ou estamos utilizando-as para explicar o conteúdo? É uma questão que merece a atenção. Recomendo a leitura dessa pesquisa para todos os estudantes e professores que pesquisem acerca do uso das fontes históricas e a sua importância na construção da escrita da história. Assim como, para todos que são discentes, docente e/ou profissionais pesquisadores da área da história e arqueologia. O artigo foi escrito por dois autores, Carlos Xavier de Azevedo Netto e Amilton Justo de Souza. O primeiro possui graduação em Arqueologia pela Universidade Estácio de Sá, mestrado em Historia e Crítica da Arte pela Escola de Belas Artes, doutorado em Ciência da Informação pela Escola de Comunicação pela Escola de Comunicação, ambas na Universidade Federal do Rio de Janeiro. O segundo é mestre em História, licenciado em História, barachel em Turismo, todos pela Universidade Federal da Paraíba. Juliana Karol de Oliveira Falcão, graduada em Licenciatura em História na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), graduanda em Letras-Espanhol (UEPB), aluna do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Estudos em História Local – Sociedade, Educação e Cultura (UEPB).

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