quinta-feira, 30 de abril de 2020

FOTOGRAFIAS DE CRIANÇAS FALECIDAS - SANTA LUZIA/PB

Se você tem fotos antigas de sua Cidade ou da sua Família envie-me que faço uma postagem especial, e, além disso, as fotos servirão como fonte para trabalhos dos historiadores e historiadoras.





Tenho as fotos para uma melhor digitalização.
Acervo Pessoal.

terça-feira, 14 de abril de 2020

FOTOGRAFIAS DO PADRE GINU (VIRGÍNIO STANISLAU AFONSO) - SOLEDADE-PB


Se você tem fotos antigas de sua Cidade ou da sua Família envie-me que faço uma postagem especial, e, além disso, as fotos servirão como fonte para trabalhos dos historiadores e historiadoras.


Virgínio Stanislau Afonso conhecido na cidade de Soledade como Padre Ginu nasceu em 15 de dezembro de 1888, em Limoeiro, Pernambuco.
Atuou em Soledade de 1935 até 1941 e foi transferido para Cuité e Pilões de Dentro retornando em 1943 onde ficou até a sua morte em 18 de outubro de 1972. Seus restos mortais podem ser encontrados na Igreja Matriz Nossa Senhora Santana – Soledade-PB.










Fotografias extraídas do facebook "Soledade Memórias"



Na fotografia abaixo temos a homilia em que o Padre Romulo relembra todo o trabalho realizado pelo Padre Ginu à Paróquia de Soledade e é realizada a introdução da urna na parede da Igreja. A urna está em uma das paredes frontais ao altar mor.



Fotografia extraída da revista "Soledade em Revista".


Para mais informações sobre o padre Ginu você pode adquirir a revista "Soledade em Revista" de Damião Lucena ou visitar o museu da cidade "Museu Ibiapinópolis" dirigido pelo Historiador Juarez Filgueira de Gois.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

FOTOGRAFIAS DA ESCOLA DE CORTE E COSTURA E CLUBE DAS MULHERES EM SANTA LUZIA-PB (EM MEADOS DO SÉCULO XX)

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A Escola de Corte e Costura funcionava nesta casa ao fundo da primeira fotografia. Nesta escola as mulheres da cidade tinham a oportunidade de aprender ofícios domésticos ligados a produção de bordados e manutenção das roupas, lençois e outros tecidos do ambiente familiar. Atualmente neste prédio funciona o Museu da cidade de Santa Luzia. Ele é localizado em frente a praça da Igreja Matriz de Santa Luzia.










Aulas de bordado
trabalho de lã
Santa Luzia
Clube das Mulheres.



Tenho as fotos para uma melhor digitalização.
Acervo Pessoal.

domingo, 12 de abril de 2020

FOTOGRAFIAS DA IGREJA DE SANTA LUZIA DO SABUGI-PB NO SÉCULO XX (BATISMO, PRIMEIRA EUCARISTIA E CASAMENTO)

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1º Eucaristia


Antônio Justino da Silva (1978)


Desconhecida


Maria Lúcia de Oliveira (1944)



Maria de Lourdes de Souza (1968)



(Desconhecidos)


(Batismo de desconhecido)



José Justino da Silva (1977)
Ele tem duas fotos da primeira comunhão?
A primeira dessa postagem e esta com a mesma data, mas porque a calça é diferente?



(Desconhecida)





Só um negro em meio a primeira comunhão de brancos (provavelmente Justino em 1944)



Casamento de Maria Lúcia criança que faz a 1º Eucaristia na terceira fotografia desta postagem.



Gostaria de mais informações sobre essa imagem abaixo:








Tenho as fotos para uma melhor digitalização.
Acervo Pessoal.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

USOS DOS DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS NA HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA.

 A História metódica, corrente emergente no século XIX, teve a sua historiografia marcada por uma construção narrativa que estava pautada apenas em documentos oficiais ou fontes históricas, por isso, no século XX, ela foi fortemente criticada pelo materialismo histórico e as escolas dos Annales. A primeira fez contribuições de bastante validade ao colocar em xeque os discursos dos documentos, porque passou a observar que eles estavam carregados de ideologias que buscavam defender interesses sociais, políticos, entre outros. Isto é, queria defender valores de uma classe.


E a última, a Escola dos Annales, tornou-se bastante importante, pois mudou a maneira na qual escrevemos a história. Ela foi a responsável por ampliar consideravelmente a noção de documento, abrangendo o que poderia ser usado, pelo historiador, como objeto de pesquisa histórica. Desse modo, uma característica comum a ambas correntes é que elas buscavam trazer à tona discurso e pronunciamentos daqueles que, até então, estavam esquecidos pela história, que não tinham voz e muito menos importância nos registros e nos enredos.
Posteriormente, após muitas contribuições de pensadores como Paul Ricoeur, Michel Foucault, Hayden, Roland Barthes, Michel de Certeau, e outros, além dos impactos causados pelo diálogo da história com outros campos de conhecimento, consequentemente como resultado houve mudanças na maneira com a qual os historiadores costumavam interrogar e descrever os documentos. Os discursos e pronunciamentos, por exemplo, são, a partir dessas transformações, entendidos como monumentos.
Eles deixaram de ser vistos como aquilo que traz o passado, para serem percebido como objetos que são interrogados enquanto as suas próprias produções, enquanto discursos promovidos para passarem efeitos de verdades. Sendo assim, o historiador deve questionar quais as informações que o documento aborda, como e por quem ele foi produzido. Seria a busca pelo lugar social do autor, conceito abordado por Certeau, para entender quais as forças que movem e silenciam as teceduras produzidas por aquele lugar de fala.
A análise dos discursos e pronunciamentos devem ter como critério dois tipos de análises: A externa e a interna. Ambos têm como funcionalidade investigar as marcas temporais, rastros que foram deixados na produção dos documentos. A análise externa se preocupa em questionar o documento sobre a sua relação com aquilo que o cerca observando os elementos culturais, sociais, políticos, entre outros, que ele carrega.
Já a análise interna tem como pressuposto que o discurso não é transparente, ele tem uma estrutura própria que segue regras gramaticais, estruturas linguísticas e condições de produções que devem ser observadas e interrogadas. Por meio da análise interna podemos conseguir identificar o período em que certo documento foi escrito através da comparação com outros documentos nos quais temos a certeza da data de sua produção.
As análises das fontes são de extrema importância e, inclusive, não apenas para questionarmos sobre a produção da escrita da história, mas também para pesarmos o porquê de alguns documentos terem sido guardados e outros não. Ou, até mesmo, nos questionarmos qual é o motivo que leva um discurso a ser publicado por determinado meio e por não ser publicado por outro difusor. A questão que deve estar à tona é: qual é a relação do autor do discurso com a plataforma que o reproduziu? Devemos estar sempre atentos às especificidades visto que ele sempre terá uma relação com as instituições que o produzem e o preservam. Portanto, nenhum documento chegado até nós pode ser considerado inocente enquanto a sua preservação.
Em relação à pesquisa histórica devemos sempre iniciar a partir da definição de uma temática, posteriormente, deve ser iniciada uma pesquisa exploratória para que possa ser encontrado o problema de investigação. Depois de ser identificado o problema, este deve ser delimitado, enquanto espaço e tempo, para que possamos iniciar o levantamento das documentações que podem ser encontrados em diversas instituições, arquivos e, inclusive, na internet. A busca das fontes irá depender exclusivamente do tipo de pesquisa que será realizado pelo pesquisador.
Após verificar o acervo que guarda os documentos, que serão utilizados, será feita a seleção e a contextualização de cada um dos discursos. Nesse processo será muito importante identificar as maneiras nas quais eles estavam organizados também observando o suporte em que eles estavam materializados, isto é, em que tipo de papel o documento foi produzido, se eles estavam manuscritos ou datilografados, se havia algum tipo de anotação, carimbo, símbolos, e etc. O pesquisador deve ter em mente que toda a informação que a fonte venha trazer é importante, pois nada está nela por acaso.
Quando estiver com todos os documentos em mãos o pesquisador deverá realizar a análise externa e interna, identificando e realizando a pesquisa sobre o momento histórico em que os discursos foram produzidos assim como a busca pelas informações acerca da biografia de quem os produziu. Caberá ao pesquisador edificar os problemas que o documento aborda e os objetivos que ele quer alcançar. Deve anotar regularidades discursivas, comparar com outros discursos proferidos pelo mesmo autor na mesma época, definir como o autor construiu a imagem de si e dos outros. Seguindo esse sistema o pesquisador poderá definir como em um dado momento histórico o objeto pode emergir.

RESENHA: HISTÓRIA REGIONAL E LOCAL

NEVES, Erivaldo Fagundes. História Regional e Local: fragmentação e recomposição da história na crise moderna. Feira de Santana: Universidade Estadual de Feira de Santana, 2002. 124 p

O livro, “História Regional e Local: fragmentação e recomposição da História na crise da Modernidade”, foi lançado no ano de 2002 pelo historiador Erivaldo Fagundes Neves.  É definido enquanto classificação de gênero como pertencente à História e a Geografia, e como classificação de subgênero como História do Brasil e do Mundo. Esta obra foi produzida pela Universidade Estadual de Feira de Santana e pela Editora Arcádia. Sobre as características físicas do livro destacamos o seu formato que é de 14x21 cm, com mancha gráfica de 9,5x18 cm, tipologia garamod (tamanho11), miolo com papel offset 75 g/m2, e capa com cartão supremo 250 g/m2. É uma primeira edição com uma tiragem de 1.500 exemplares. Acerca da equipe de realização temos o trabalho de capa de Menandro Ramos, editoração eletrônica de Caio Gonzaga Farias e Menandro Ramos, revisão ortográfica de Évila de Oliveira Reis Santana e normalização bibliográfica de Graça Maria Dultra Simões. O livro trata sobre as transformações do mundo e da própria história, inclusive, acerca dos fatores que permitiram o estudo da História Regional e Local no mundo e no Brasil. “História Regional e Local” possui 124 páginas. Divide-se em: prólogo (07-10 p.) que explica todas as conjunturas que envolvem a produção historiográfica, desde as motivações e objetivos para a sua construção até os seus resultados; 07 capítulos, modernidade (11-27 p.), nova história (28-44 p.), história regional e local, (45-61 p.), o IHGB na formação da historiografia brasileira (62-73 p.), a universidade na consolidação da historiografia brasileira (74-85 p.), história regional e local no Brasil (86-94 p.), e fontes e métodos da pesquisa histórica regional e local (95-103 p.); Epílogo (104 -106 p.); referências bibliográficas (107-118 p.), entre elas, inéditos, periódicos, cadernos e livros; e, por fim, os modelos de fichas catalográficas (119-124 p.) que têm como finalidade a coleta de dados. Podemos encontrar fichas de leitura de testamento e inventário, de bens e imóveis, de leitura de escritura de imóveis, de leitura de correspondência, de leitura de escrituras de escravos, de leitura de documentos diversos, de leitura de cartas de liberdade de escravos, e de leitura de registro paroquiais de terras. O autor inicia discorrendo acerca do conceito de modernidade. O moderno emerge em uma sociedade transformando-a, tanto nas relações sociais quando nas práticas comportamentais. As transições entre os períodos históricos demostram bem essas profundas transformações no modo de vida da sociedade. A Idade Média deu espaço para a Idade Moderna, esta deu lugar a Idade Contemporânea, e ao direcionarmos o olhar, para ambas as rupturas, vamos perceber uma troca entre o que era avaliado como ultrapassado por algo que era considerado moderno, inovador. O novo, a novidade, chama a atenção da população, principalmente, dos mais jovens que acabam por absorver os novos valores com uma maior aceitação e, assim, terminam por modificar os seus hábitos, o seu cotidiano, o que, na maioria das vezes, resultou no descontentamento das pessoas de idade mais avançadas. Apesar das bonanças que podem ser trazidas pela modernidade, ela entrou em crises, da mesma maneira que o campo científico e a escrita da história. A arte de fazer história, através de um movimento iniciado na França pela Escola dos Annales, sofreu intensas modificações ao abranger as temáticas e as fontes que poderiam ser objetos das análises dos historiadores. Este processo resultou em uma maior flexibilidade nas fronteiras do profissional permitindo um dialogo com outras áreas de conhecimento, por exemplo, psicolinguística, etnohistória, sociobiologia, antropologia histórica, entre outras. Na terceira geração dos Annales o campo de estudo havia se ampliado ainda mais. Influenciados pela Ciência Social, alguns historiados propuseram a modificação no campo de análise da história incorporando, entre tantas modificações, interpretações de fenômenos particulares e relações de alteridade. Portanto, o contexto da Nova História permitiu que o historiador adentrasse na História Local através do uso de fontes como: as listas de preços, certidões de nascimento, batismo, casamento, óbito, etc. Sendo assim, a história regional e local, pode ser definida como um estudo pautado em uma base territorial com vínculo de afinidade em que podemos verificar as suas interações internas e externas. Para realizar este tipo de pesquisa é primordial iniciar pela identificação das fontes e recursos metodológicos que mais bem possam contribuir para o trabalho realizado. Entretanto, devemos ter como pressuposto que a escrita da história é sempre incompleta e que nenhum pesquisador deu/dará conta de realizar um trabalho acabado, sempre restou/restará às lacunas. No Brasil, a partir da criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ao tentar criar um Estado Nacional e uma História Oficial, a história do país resultou por caracterizar-se como um recorte regionalista, porque exaltava as elites locais. Com a instauração de universidades no Brasil e a implantação de cursos de histórias a historiografia passou a adquirir outras dimensões, isto é, os historiadores passaram a se enveredar por novas metodologias de investigação e a ler, pesquisar e usar outros teóricos. Neste processo surgiu a proposta de estudar a história regional e local. Para o seu desenvolvimento preferiu-se utilizar como fontes às documentações municipais, eclesiástica e cartorial, entretanto, vamos encontrar também outras bastante importantes como os arquivos particulares, os jornais, as orais, que são utilizadas tendo como intermédio o método histórico. Este é baseado em um conjunto de regras que, segundo Deihnl, pode ser esquematizada em: sistematizar a experiência; normas de pesquisa; critérios de sentidos; método interpretativo; método analítico; e método da dialética. O autor do livro fez uma boa escolha acerca da divisão do livro e dos temas abordados em cada capítulo, em que com maestria faz uma ligação entre cada um deles nos fazendo acompanhar todo o processo de formação e de metodologias empregadas na pesquisa da história regional e local. Acredito que o diferencial deste trabalho, além das importantes contribuições que sua escrita produz, é os modelos de fichas para coletas de dados que podem auxiliar na pesquisa do historiador e, até mesmo, do estudante de história que está iniciando o seu processo de investigação. A obra de Neves é uma pesquisa bem estruturada que remonta o processo pelo qual se tornou possível o estudo da história regional e local. Com isso, tem uma validade considerável para a academia. É um livro indicado para estudantes e profissionais da área de história que pesquisem e/ou se interessem pela temática abordada. Neves é natural do distrito de Bonito, onde hoje é a atual cidade de Igaporã. Filho de Joaquim Fagundes Chaves e Adelina Rodrigues Neves. Atualmente é casado com Ivone Freire Costa, doutora em sociologia econômica e das organizações, com quem tem dois filhos. Ele Cursou Licenciatura em História na Universidade Católica do Salvador (1976), possui Especialização em Conteúdos e Métodos do Ensino Superior na Universidade Federal da Bahia (1977), Mestrado em História Pontifica na Universidade Católica de São Paulo (1985) e Doutorado em História na Universidade Federal de Pernambuco (2003) sandwich na Universidad de Salamanca, na Espanha. Suas pesquisas são de forte impacto tanto no âmbito nacional quanto internacional. Atualmente tem vinculo profissional com a Universidade Estadual de Feira de Santana através do departamento de Ciências Humanas e Filosofia. Entre as suas principais obras, destacam-se, “Crônica, memória e história: formação historiográfica dos sertões da Bahia” (2016), “Escravidão, pecuária e policultura; Alto Serão da Bahia, século XIX” (2012), “Uma comunidade sertaneja: da sesmaria ao minifúndio (um estudo de História Regional e Local)” (2008), entre outros. Esta resenha foi elaborada por Juliana Karol de Oliveira Falcão, graduada em Licenciatura em História na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), graduanda em Letras-Espanhol (UEPB), aluna do Curso de Pós-Graduação em Lato Sensu em Estudos em História Local – Sociedade, Educação e Cultura (UEPB).

RESENHA DO CAPÍTULO A IMPORTÂNCIA DA CULTURA MATERIAL E DA ARQUEOLOGIA NA CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA


AZEVEDO-NETTO, Carlos Xavier de; SOUZA, Amilton Justo de Souza. A importância da cultura material e da Arqueologia na construção da História. História Unisinos. v. 14 n. 1, p. 62-76, jan./abr. 2011.

O artigo intitulado “A importância da cultura material e da Arqueologia na construção da História” foi publicado pela revista História Unisinos, volume 14, número 1, edição de janeiro/ abril do ano de 2011. A revista pública pesquisas realizadas no campo dos estudos da história da latino-américa de maneira interdisciplinar. O texto resenhado é uma versão ampliada, revista e alterada da monografia produzida por Amilton Justo de Souza, cujo título é “A importância da Arqueologia para a Construção da História”. A pesquisa, que resultou no artigo, discute a relevância da cultura material como fonte documental que auxilia a construção da história. A sua organização está disposta em alguns subtítulos, que são: algumas limitações do documento escrito; vestígios materiais e construção da história; cultura material e práticas cotidianas; e a representação e interpretação na cultura material. O texto completo tem um total de 15 páginas. A escrita da História durante muitos anos utilizava como fonte histórica exclusivamente o documento escrito, tendo em vista que, documentos oficiais eram os únicos considerados como confiáveis e dignos de contar a “verdade”. Os demais vestígios arqueológicos eram entendidos como um complemento, eles serviam de ilustração do que era narrado pelas fontes escritas. A partir do século XIX, a forma de escrever e contar a história começa a passar por mudanças devido à escola dos Annales, pois ela passa a ampliar o domínio do historiador ao definir consideravelmente outros objetos que passaram a serem fontes históricas. Então, ela introduz nesse conjunto a cultura material, indo, desse modo, de encontro à história positivista. Tínhamos, assim, a história tradicional contra a história nova. Este movimento gerou uma expansão extraordinária do que era definido como documento, saindo apenas do escrito e partindo para outros documentos como, por exemplo, os produtos de escavação arqueológica, resultando em, por parte do historiador, um diálogo com o trabalho do arqueólogo e da cultura material. Os autores defendem que existem algumas características que mostram limitações entre as fontes escritas e as fontes materiais. Entre elas temos a capacidade que a cultura material tem de resistir ao tempo, pois o texto escrito tem uma deterioração mais rápida, e o fato de que os documentos escritos, durante os períodos da história, não registram muitos grupos sociais, se preocupavam apenas em narrar os feitos das elites. Com isso, por meio dos estudos das fontes materiais tornou-se possível observar e registrar a história desses grupos negligenciados pela historiografia. Então, podemos compreender que através dessas mudanças vamos ter uma aproximação entre a arqueologia e a história quando o historiador faz uso da cultura material para explicá-la. Além disso, eles compartilham um mesmo objeto de estudo que seria o estudo das características da sociedade, tanto no passado, quanto no presente, pois, a arqueologia também pode ser considerada uma ciência dos objetos. Entretanto, como qualquer outro documento, os arqueológicos só podem nos contar sobre o passado quando questionados. E quando os interrogamos eles nos contam uma história que desafia as classes dominantes, por ter a capacidade de trazer a tona enredos de resistência, de povos que não tem visibilidade nos documentos escritos, colocando as massas em primeiro plano. Já a relação da prática cotidiana e a cultura material devem ser entendidas como uma estratégia para aproximar a arqueologia da história. Os vestígios históricos deixados pelas práticas cotidianas vão recuperar as evidências de hábitos, de mentalidades, sensibilidades realizadas na vida dos antepassados. A construção desse conhecimento se dá através da representação. Ela está intimamente ligada à cultura material, pois esta tem um caráter de identidade e de memória. Para tanto, os autores fazem uma discussão acerca do ato de representação e usam alguns pensadores como aporte teórico como, por exemplo, Santaella e Noth, para dividi-la em duas partes fundamentais que seriam a representação mental e a representação pública (que é o conjunto em que a cultura material se encaixaria devido ao espaço onde ela foi produzida e as relações dos sujeitos que dela faziam uso).  Portanto, as fontes materiais funcionam como um objeto que traz, através da sua interpretação, a representação de uma identidade existente em um determinado recorte espacial e temporal. Desse modo, ele não é mais visto apenas como um registro arqueológico passível de descrição, mas também como um testemunho do passado. Para finalizar, os autores apontam a importância de sempre, quando for possível, estudar as fontes materiais juntamente com a fonte escrita, pois nesses casos uma pode completar a outra ao trazer a voz das classes exploradas. Este artigo é uma importante contribuição acadêmica, porque conduz a um debate de extrema relevância que, porém, é pouco realizado nas instituições de ensino superior. Ele nos faz refletir sobre a cultura material de uma maneira em que amplia o sentido tanto da forma de como escrever a história, como da forma de contar a história. Nós fazendo questionar: enquanto professores de história, nos estamos utilizando as fontes históricas adquiridas através do trabalho do arqueólogo meramente como ilustração ou estamos utilizando-as para explicar o conteúdo? É uma questão que merece a atenção. Recomendo a leitura dessa pesquisa para todos os estudantes e professores que pesquisem acerca do uso das fontes históricas e a sua importância na construção da escrita da história. Assim como, para todos que são discentes, docente e/ou profissionais pesquisadores da área da história e arqueologia. O artigo foi escrito por dois autores, Carlos Xavier de Azevedo Netto e Amilton Justo de Souza. O primeiro possui graduação em Arqueologia pela Universidade Estácio de Sá, mestrado em Historia e Crítica da Arte pela Escola de Belas Artes, doutorado em Ciência da Informação pela Escola de Comunicação pela Escola de Comunicação, ambas na Universidade Federal do Rio de Janeiro. O segundo é mestre em História, licenciado em História, barachel em Turismo, todos pela Universidade Federal da Paraíba. Juliana Karol de Oliveira Falcão, graduada em Licenciatura em História na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), graduanda em Letras-Espanhol (UEPB), aluna do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Estudos em História Local – Sociedade, Educação e Cultura (UEPB).

RESENHA: “FOUCAULT E A EDUCAÇÃO”


VEIGA NETO, Alfredo. Foucault e a Educação. 2 ed. Belo Horizonte: Autentica, 2007. 160 p.

“Foucault e a Educação” é um livro produzido por Alfredo José Veiga Neto. Ele é Graduado em História Natural (1964-1967) e em Música (1957-1963), tem Mestrado em Genética e Biologia Molecular (1972-1975) e é Doutor em Educação (1992-1996), toda sua formação foi na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde atualmente é professor no Programa de Pós-Graduação, coordenando o grupo de estudos e pesquisa em Currículo e Pós-Modernidade. Veiga tem experiência na área de Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: currículo, estudos foucaultianos, crítica pós-estruturalista e interdisciplinaridade. 
O livro, “Foucault e a Educação”, foi produzido pela Editora Autêntica e faz parte da coletânea Pesadores & Educação. A obra resenhada é da segunda edição, 2017, e possui 160 páginas. É resultado de diversos anos de pesquisas para a construção da sua tese de doutoramento, e nela ele se debruça acerca do filosofo francês, Michel de Foucault, e as suas contribuições para a área da educação. O livro inicia-se com uma apresentação, tem quatro partes e 10 capítulos. Ele é didático e conta com uma linguagem clara, nos ajudando a identificar o presente das práticas educacionais de maneira a problematizar as forças que as movem.
A primeira parte intitulada “Situando” possui apenas o capítulo 1. No primeiro capítulo “Situando Foucault” ele busca classificar o filosofo, apontando-o como o intelectual que melhor definiu as práticas e os saberes dos últimos séculos e a formação do sujeito moderno. Entretanto, o autor chama a atenção ao destacar que é mais válido falar em teorizações foucaultianas que em teorias foucaultianas. Está conduta evitaria dois equívocos: o primeiro é que o encaixe dos conceitos foucaultianos em toda e qualquer situação não é possível, pois é importante entender inicialmente que essas teorizações não devem ser encaixadas em todo ou qualquer objeto de investigação; e a segunda é pensar que todos os problemas de pesquisa estão livres no mundo esperando apenas uma teoria para serem investigados. E, apesar de Foucault ser um crítico da modernidade, isso não significa dizer que ele vá contra tudo que o pensamento moderno defende o que ele crítica na realidade é a ideia iluminista, unificadora da razão.
A segunda parte nomeada de “Domínios foucaultianos” vai do capítulo 2 até o capítulo 5. No segundo capítulo, “Os três Foucault? Ou a sempre difícil sistematização”, o autor aponta que normalmente o trabalho do filosofo é dividido três fases: arqueologia; genealogia; e ética. Contudo, ele explica que ao invés de usar as palavras fases ou eixos é mais recomendável usar a expressão “domínio”, que seriam: o ser-saber, o ser-poder e o ser-consigo. Esses domínios são mais bem explanados nos capítulos seguintes.
No terceiro capítulo, “O primeiro domínio: o ser-saber”, ele evidência os livros “As palavras e as coisas” e “A arqueologia do Saber” como os que melhor definem o primeiro domínio foucaultiano. No primeiro livro é onde a arqueologia aparece pela primeira vez, ela, nessa obra, pode ser chamada também de percepção para se referir a um saber que está além do conhecimento sistematizado. No segundo livro ele explicou como nos tornamos na modernidade sujeitos de conhecimento e assujeitados ao conhecimento, sendo assim o homem moderno não produz saberes, ele seria, neste caso, um produto dos saberes. Assim, não busca explicar os discursos, tão pouco a sua origem, procura as teias discursivas nas quais ele é formado.
No quarto capítulo, “O segundo domínio: o ser-poder”, ele procura explicar o processo de genealogia e a sua priori histórica, processo em que são as regras de produção de discursos que se encontram internas ao discurso. Formando, desse modo, não apenas os procedimentos necessários para entender o passado, mas também nos dando armas para nós revelarmos contra o presente. Os livros dessa fase são “A Ordem do Discurso”, “Vigiar e Punir” e “História da Sexualidade – A Vontade de Saber”.
No quinto capítulo, “O terceiro domínio: O ser-consigo”, o autor aponta que Foucault definiu esse domínio nos últimos anos da década de 1970 através da publicação de “História da Sexualidade” volumes dois e três. O interesse do filósofo estava em estudar a sexualidade e como foi que cresceu tanto a problematização em torno dela, para tanto, ele observou os saberes médicos, judiciais, sociológicos, entre outros. Assim, a ética se faz presente em seu estudo ao observar a moral, o comportamento, a origem dos códigos e as prescrições, percebendo a relação de si para consigo.
A terceira parte nomeada de “Temas foucaultianos” vai do capítulo 6 ao capítulo 8. No sexto capítulo, “Linguagem, discursos, enunciados, arquivos, episteme...”, o autor discorre sobre os conceitos que o próprio título do capítulo carrega, possibilitando ao leitor um melhor entendimento de suas teorizações. Nele também é citado as ideias de verdade e não verdade que um discurso pode compor.
No sétimo capítulo, “O sujeito”, temos a imagem do sujeito vista sobre a perspectiva de uma construção, esta motivada pelas práticas discursivas que convertem os seres humanos em sujeitos. Com isso, Foucault acredita que o sujeito não é algo pré-existente, mas sim construído. Está, defende o autor, talvez seja uma das contribuições mais importantes do filósofo para a educação, pois a escola é uma instituição produtora de sujeitos.
No oitavo capítulo, “O poder-saber”, Veiga aponta as articulações entre o saber e o poder. Está relação se deu ao perceber que os saberes vigentes atendem a uma vontade de poder e acabam se transformando em correntes propagadoras do próprio poder. Um poder que não é macro, mas sim micro, que não é fixo, é móvel, que pode estar presentes numa relação entre duas pessoas, quanto também podem partir de uma instituição. Isto é, o poder caminha por todas as esferas da sociedade, seja ela pública ou privada.
A quarta parte, “Tempos e lugares foucaultianos” vai do capítulo nove ao dez. São os menores capítulos do livro. No capítulo 9, “Cronologias foucaltianas”, o autor traz uma brevíssima reconstituição da vida privada e profissional de Foucault. No capítulo 10, “Sites de interesse na internet”, Veiga elenca uma série de sites que podem contribuir para. um estudo mais aprofundado sobre as questões foucaultianas.
“Foucault e a educação” é um livro que trás uma linguagem bastante acessível, além de citar e explicar um número considerável dos conceitos de maneira clara e objetiva evitando a rigidez de uma escrita travada. Ele contribui bastante em nossa reflexão sobre a educação vista sobre a lente de Foucault, nos fazendo refletir que nenhum sujeito é neutro e que para se construir ele é atravessado por vários feixes discursivos que são também vontades de saber e de poder.
Portanto, ele ilumina métodos, categorias, domínios, além de apontá-los dentro do diálogo educacional. Não se retendo a apenas as informações que esmiuçou durante o decorrer de sua escrita o autor faz uma importante contribuição de outras fontes que podem auxiliar o leitor a um maior aprofundamento das questões expostas. Assim, podemos considerar a sua avaliação de maneira positiva.
Recomento este livro para graduandos em cursos de licenciatura das mais diversas áreas de conhecimento, pois ele ajuda a observar o campo educacional com uma maior criticidade, permitindo enxergar o ser humano como sujeitos frutos de produções discursivas e, assim, entende-los como frutos de um grupo social. A partir do momento que enxergamos um aluno deste modo podemos planejar uma conduta profissional que tenha efeitos mais satisfatórios dentro da realidade escolar. Com a leitura de livros como esse, na graduação, construímos professores melhor preparados para a prática docente. Ele também é ideal para profissionais já licenciados que tem o interesse de se aprofundar nas maquinarias sociais movidas pelos discursos, pelo saber e pelo poder. E para todo pesquisador que se familiariza com as questões trazidas por Foucault.

DOCUMENTO/MONUMENTO


 Ao buscar entender como funciona a memória coletiva e a história, devemos levar em consideração que ela é observada através da ótica: documento e monumento. Estes vestígios que chegam até nós, deixam de ser compreendidos como meros resquícios do passado, deixam de serem testemunhos fieis e completamente confiáveis. Agora, eles passam a ser entendidos como resultado de uma equação de forças que operam na sociedade. Podem ser considerados como objetos cujas preocupações giram em torno de passar efeitos de verdade que atendam a um determinado lugar discursivo.
Diante desse contexto, as matérias da memória podem ter duas formas principais: a primeira delas é um monumento. Ele é o que se refere a uma herança do passado, estando intimamente ligado à memória ao ato de rememorar, de relembrar, de recordar, de evocar o passado; e a segunda é o documento que é fruto da escolha do historiador, está ligado ao ato de ensinar, de registrar, de provar, e de ensinar através do conhecimento gerado na pesquisa, perpetuado e “eternizado” na escrita.
Podemos afirmar que durante muito tempo o documento superou o monumento na produção historiográfica, tendo em vista que, o espírito positivista se instalou na escrita da história. Entretanto, antes disso, o termo monumento foi encontrado em diversos registros realizados na Idade Moderna, por exemplo, foi utilizado, em 1759, por Nicolas Morea, historiógrafo francês e pelo inspetor geral Bertin, em 1837, por Augustin Thierry, entre outros.
No século XIX o termo monumento foi usado para se referir as grandes coleções de documentos que eram produzidos na época como é o caso, por exemplo, do Monumenta Germanie historica, publicado em 1826. Contudo, de maneira geral, o termo documento foi colocado em primeiro plano principalmente quando observamos a historiografia europeia durante o final do século anteriormente citado e no decorrer do século XX. Neste período iremos perceber o declínio do monumento e ascensão do documento.
Este fortalecimento e poder do documento se deram com auxílio da escola positivista. A partir do advento dela todo historiador considerará o documento escrito como ferramenta essencial do seu trabalho, pois sem este artefato, para eles, seria impossível fazer história visto que a fonte escrita e oficial eram as únicas consideradas detentoras da verdade, e, portanto, dignas de serem responsáveis por narrar os acontecimentos. Nessa concepção, dos ideais positivistas, a ideia de documento continua sendo a mesma.
Contudo, em 1929, com a fundação da revista Annales d’histoire économique et sociale a ideia que os historiadores tinham sobre documento histórico começa a passar pelo seu processo de transformação e expansão. Nesse instante alguns profissionais passaram a se questionar acerca do uso dos documentos e a pensar se apenas um tipo de documento seria suficiente para a construção da história, até mesmo porque eles eram limitados enquanto ao grupo social que representavam.
Através dessas questões levantadas pelos Annales, os pesquisadores concluíram que o documento poderia abarcar mais fontes, além das escritas, e, assim, trazer um sentido mais amplo para a história ao aceitar como fonte as ilustrações, as imagens, as oralidades, entre outros, que se tornariam essenciais para um trabalho mais completo, mais abrangente e que poderia auxiliar em uma escrita mais plural. Com isso, estas mudanças levaram ao que passou a ser chamado de uma revolução documental, que poderia ser classificada tanto como qualitativa quanto como quantitativa.
O interesse em relação à memória coletiva também muda de foco, além de ser considerada, a partir de então, como um patrimônio cultural. Os historiadores não mais se preocupam em narrar, apenas, à história dos considerados grandes homens, que seriam aqueles que teriam realizado os ditos grandes feitos, porém dão visibilidade aos outros lugares sociais, lugares que antes se encontravam silenciados, calados, amordaçados, um bom exemplo seria as mulheres que a partir desse instante emergiram como participantes da produção da história, como protagonistas.
Com a fundação dos Annales, além de todas as transformações expostas, houve uma crítica em relação ao documento, ao caráter passivo do historiador e a falta de criticidade. Diante da ilusão positivista de que todo documento seria autêntico e traria a verdade absoluta sobre os acontecimentos, muitas vezes, o pesquisador se esquecia de questionar se realmente ele estava trazendo dados verídicos ou se haviam sido manipulados por um grupo que pretendia mascarar certos dados.
Portanto, a Annales permitiu que houvesse uma crítica ao documento, enquanto monumento, enxergando-o como produto das forças da sociedade que o produziu, um produto que ao primeiro olhar se esconde por traz de uma maquiagem, uma roupagem, pois ele nunca se mostra no primeiro momento do contato, ele nunca é inocente. Olhar dessa forma para o seu objeto de pesquisa é realizar um processo de transformação de um documento para um monumento (que é o método seguido pelos historiados atuais que simpatizam com essa vertente), entendendo-o como uma ação consciente ou inconsciente de todos os partícipes da sociedade que não pode ser isolado do ambiente e das demais interferências que os evocaram.

A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE


A construção da identidade não é algo natural. É uma construção produzida em um local determinado, é partilhada por um grupo e por uma cultura composta de diversas práticas cotidianas, portanto, ela é relacional, dinâmica e histórica. A produção da identidade não ocorre do dia para a noite, não é definida por um comitê, ela vai se construindo através de práticas culturais, relações entre povos, jogos de poder, ao longo do temo.
O homem já nasce em uma cultura pré-definida e vai sendo moldado nela, absorvendo as verdades que vão se constituindo através da crítica de todos os discursos institucionais que o sujeito escuta durante a sua vida. O homem morre, porém a conservação da identidade, plural e diversificada, prossegue. É uma marca deixada pelo se humano da sua passagem pela terra. Não conseguimos viver sem classificar as pessoas e ordenar as coisas ou sem comparar o eu e o outro. E esta comparação é realizada de acordo com as diferença entre as identidades.
Só sabemos que existe uma diversidade de identidades devido à existência de outras identidades que marcam, evidenciam as diferenças, por isso, a relação com o outro é fundamental para a percepção dos grupos e, consequentemente, para marcar a exclusão. Isto, porque, dependendo dos conjuntos simbólicos que uma pessoa carrega podemos definir se ela pertence ou não a determinada identidade, então, nós podemos inclui-la ou exclui-la a determinado campo de pertencimento.
Para pertencer a uma identidade o individuo tem por obrigação fazer uso de objetos, de materiais que possuem sua carga de significados para eles, o que pode provocar conflitos entre identidades distintas, como bem coloca Woodward:

O cigarro [usados pelos servos e croatas] funciona, assim, neste caso, como um significante [grifo nosso] importante da diferença e da identidade e, além disso, como um significante que é, com frequência, associado à masculinidade (tal como na canção dos Rolling Stones, “Satisfaction”: “Bem, ele não pode ser um homem porque não fuma os mesmos cigarros que eu”) [...] O homem da milícia sérvia é explicito quanto a essa referência, mas menos direto quanto a outros significantes da identidade, tais como as associações com a sofisticação da cultura europeia [...] (WOODWARD, 2014, 10 p.).


O trecho acima nos chama a atenção, inclusive, há outro aspecto da identidade de uma nação: as questões de gênero. As maiorias das identidades estão ligadas as concepções de gênero, em que a força da influencia gira principalmente de maneira mais forte em torno das concepções militarista da masculinidade. Deste modo, as mulheres ocupam um espaço secundário tendo em vista que até mesmo a ideia do que é ser mulher, ser feminina, mãe, filha, irmã, foi construída de acordo com as posições de sujeito que o homem define para mulher. Nesta definição ele toma como pressuposto os padrões do que é ser masculino para definir o que é ser feminino, entrando, nesse contexto, mais uma vez, o outro, o diferente, para a percepção das múltiplas identidades, como bem aponta Woodward (2014):

A única menção a mulheres, neste caso, é às “garotas” que eles “namoravam”, ou melhor, que foram “namoradas” no passado, antes do surgimento do conflito. As mulheres são os significantes de uma identidade masculina partilhada, mas agora fragmentada e reconstruída, formando identidades nacionais distintas, opostas. Neste momento histórico específico, as diferenças entre os homens são maiores que quaisquer similaridades, uma vez que o foco está colocado nas identidades nacionais em conflito. A identidade é marcada pela diferença, mas parece que algumas diferenças - neste caso entre grupos étnicos - são vistas como mais importantes que outras, especialmente em lugares particulares e em momentos particulares (WOODWARD, 2014, 9-10 p.).

Portanto, pensar o outro sempre será uma comparação entre mundos. E estes mundos estão, a cada dia, mais próximos devido ao advento da globalização. Atualmente é possível, principalmente, nas grandes metrópoles e capitais, termos a disponibilidade de frequentar lojas e restaurantes que trazem elementos físicos e degustativos de outras regiões do mundo. Um contato mais próximo com o outro e a sua identidade.
Porém, de maneira geral, o cinema é um ponto central no deslocamento cultural visto que as imagens exibidas nas telas produzem diversos significados simbólicos que provocam desejos conscientes e inconscientes pela identidade do outro. Ele é uma ferramenta que nos desloca para a realidade do outro mesmo que este não esteja presente. Estes leques de representações de identidades revelam relações de poder, é um jogo entre culturas, em que as forças definem que identidades serão incluídas ou excluídas no jogo politico, assim como definem as identidades consideradas superiores e as que serão consideradas inferiores.
discuta sobre os modelos de análise, mas também sobre os efeitos culturais, simbólicos e políticos da produção da alteridade em relações de poder difusas, mas articuladas a estratégias de governo ou intervenção na vida pública. Quem é o outro? E por quais razões se pode pensar que ele é “uma ausência permanentemente presente” no mundo contemporâneo e no cenário educacional?

Quando partimos para o campo educacional
Por que falar dessas definições de professores para pensar o outro e a sua ausência presente no cenário de educação atual? Porque o professor ao analisar a educação com a ótica do presente vai levar em consideração os seus pressupostos culturais, a sua identidade particular, portanto, identificar as misérias das salas de aula com o olhar selecionador, com uma peneira que escolhe apenas aquilo que a sua identidade permite pensar como ruim. Assim, não apenas os professores, mas todos nos vemos:

o Outro, não de qualquer maneira, mas a partir do nosso patrimônio, a partir de nossa Consciência Humanitária, isto é, como “vítima” – a ser socorrida, com a qual solidariza-se, a ser liberada, à qual deve ser concedida a palavra, a ser integrada – ou como “culpável” – que  deve ser desmascarada, denunciada, dissuadida, perseguida, expulsa e justiçada – garantindo-nos assim o espetáculo de um Ocidente comprometido com “os direitos do homem” e com a humanização do mundo. (81 p.)

Pensar o outro com o olhar de alteridade é pensar o outro como objeto de ação que pode nos proporcionar, através do seu lugar de diferença, novos conhecimentos. No ocidente a identidade do outro, de uma cultura diferente poder ser capaz de emergir, mas diante de uma seleção em que nos o identificamos, registramos, o fazemos visíveis, apontamos as suas semelhanças e diferenças, que são cuidadosamente observados. Mas, nessa relação de escolher e definir há uma troca, pois ao mesmo tempo em que estamos observando a cultura do outro também o estamos dando um pouco da nossa cultura, inserindo “nossa miséria, nossa soberba, nossa arbitrariedade, nossa mortalidade e nossa finitude” (PLACER, 2001, 88 p.). Sendo assim, para pensá-lo temos que entender a nós mesmo, identificar sobre o que cremos, quem somos, nos revelarmos.