sexta-feira, 10 de abril de 2020

KAFKA: POR UMA LITERATURA MENOR



 DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. Kafka: por uma literatura menor. Tradução de Cíntia Vieira da Silva. Revisão da tradução: Luiz B. L. Orlandi. 1ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.

O livro escrito em conjunto por Gilles Deleuze e Félix Guattari, Kafka: por uma literatura menor, é uma narrativa que potencializa o devir e tem como pressuposto o caráter minoritário, revolucionário, político e, por isso, foi caracterizada como uma abordagem que pertence à literatura menor. Está obra foi publicada pela primeira vez no ano de 1975. O título da obra, acredita-se que, surgiu através da tradução do diário de Kafka que foi quando apareceu pela primeira vez à expressão em francês petites littératures, esta ideia de uma literatura pequena irá adquirir um sentido forte na obra de Deleuze e Guattari que trará, inclusive, está expressão traduzida como “literatura menor”.
Com o objetivo de observar o lugar social dos autores iremos fazer uma pequena explanação sobre eles. Deleuze nasceu em Paris no ano de 1925. Estudou filosofia na Sorbonne, onde conseguiu conquistar o diploma de Estudos Superiores no ano de 1947. Lecionou nos liceus de Amiens, Orléans e Louir-Le-Grand. Durante os anos de 1969 a 1987, foi professor na Universidade de Vincennes onde conheceu Guattari.  Felix Guattari nasceu em 1930 em Paris, foi um importante filósofo e psicanalista francês. O encontro entre os dois intelectuais resultou na criação de diversas obras.
Sobre a organização do livro referente à sua estrutura vemos que ele está dividido em nove capítulos nesta respectiva ordem: Conteúdo e expressão; Um Édipo exagerado; O que é uma literatura menor; As componentes da expressão; Imanência e desejo; Proliferação das séries; Os conectores; Blocos, séries, intensidades; O que é um agenciamento? A obra Foi traduzida por Cintia Vieira da Silva e publicada pela Editora Autêntica. É um livro de primeira edição que foi impresso no ano 2017.
Em Kafka: por uma literatura menor os autores realizam uma interpretação de uma nova literatura, de uma produção que possui várias entradas, uma máquina de produção de sentidos, seria está, pois, uma literatura menor. Entretanto, como primeiro ponto, vale destacar que, quando nos referimos em literatura menor, não podemos defini-la enquanto pertencente a um conjunto de número pequeno, mas pela distância que ela tem em relação a uma determinada característica dominante, portanto, podemos definir como minoria o grupo de elementos que representam a multiplicidade e a maioria é referente a um conjunto correspondente a generalidade normalizadora e global.
Sendo assim, a literatura menor, considerada como um rizoma, não pertence a uma língua menor, ela pertence a uma língua que uma minoria constrói em uma língua maior sendo afetada pela desterritorialização, está é a sua primeira característica. A segunda é que nesse tipo de literatura tudo é político indo contra a corrente das literaturas maiores que tende a ser individual. Na literatura menor os espaços fazem com que o individual esteja fortemente ligado à política. Com isso uma questão familiar, por exemplo, faria conexões não apenas com o particular, porém também com outras áreas como o comercial, o econômico, o jurídico, entre outros. E a terceira característica é a ação coletiva, pois a literatura encontra-se responsável por carregar positivamente a função de enunciação coletiva e revolucionária ao forjar meios de outras consciências, representações, identidades e sensibilidades.
A literatura revolucionária terá início com a anunciação, ela que tem como finalidade provocar rupturas, deixar marcas e produzir reflexões. Será uma máquina de guerra pronta para dar a voz aos silenciados pelo discurso da norma e da legitimação, pela representação engessada. Portanto, nunca, em nenhuma hipótese, a literatura deve ser considerada como um objeto neutro, isto é, como um enredo sem intencionalidades. Nesta perspectiva, a literatura é luz, expressão, força, luta, política e armamento de guerra. O autor não foge a regra, visto que, ele é o responsável por produzir a literatura. O autor ao assumir as vestimentas de criador da narrativa literária passa a ser o articulador de toda essa teia de expressividades em suas mãos, desta maquinaria tão expressiva e poderosa.
 Fazer a avaliação de uma obra exige bastante do leitor, ainda mais quando se trata de um livro tão complexo como Kafka: por uma literatura menor. Ele não é uma leitura fácil de ser feita, porque, para uma compreensão mais ampla e eficaz de sua produção seria interessante que o leitor tivesse um conhecimento prévio acerca das obras de Kafka que são citadas e exemplificadas ao longo de toda a obra como, por exemplo, a Metamorfose e o Processo.
Contudo, ao trazer à luz a temática da literatura menor os autores o fazem de maneira extraordinária, nós fazendo refletir em cada linha e nas entrelinhas sobre a temática transcorrida durante as páginas. E o mais interessante é que toda esta reflexão pode transbordar o campo da literatura e levar-nos a pensar a questão menor e minoria em outros âmbitos da sociedade como, por exemplo, o escolar, que é por maestria o campo principal de atuação de todo estudante de licenciatura. Assim, poderemos enxergar com mais criticidade as pluralidades existentes na sala de aula e dar voz e ouvidos para que elas sejam além de pronunciadas, ouvidas.
Por todos estes motivos elencados anteriormente recomendo esta obra para os estudantes de licenciatura das mais variadas áreas de conhecimento: história, letras, filosofia, sociologia, entre outras, para que possam questionar, através dessa narrativa, a função e o poder que a literatura tem sobre a sociedade, assim como ajudá-los a refletir, a ter uma visão cada vez mais ampliada da sociedade e de suas pluralidades, representações, identidades, entendendo que elas não podem ser representadas por apenas uma ideia, uma norma, mas que também merecem espaço e voz.

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