DELEUZE, Gilles & GUATTARI,
Félix. Kafka: por uma literatura menor. Tradução de Cíntia Vieira da
Silva. Revisão da tradução: Luiz B. L. Orlandi. 1ª ed. Belo Horizonte:
Autêntica Editora, 2017.
O livro escrito em conjunto por Gilles Deleuze e Félix
Guattari, Kafka: por uma literatura menor,
é uma narrativa que potencializa o devir e tem como pressuposto o caráter
minoritário, revolucionário, político e, por isso, foi caracterizada como uma
abordagem que pertence à literatura menor. Está obra foi publicada pela primeira
vez no ano de 1975. O título da obra, acredita-se que, surgiu através da
tradução do diário de Kafka que foi quando apareceu pela primeira vez à
expressão em francês petites littératures,
esta ideia de uma literatura pequena irá adquirir um sentido forte na obra de
Deleuze e Guattari que trará, inclusive, está expressão traduzida como
“literatura menor”.
Com o objetivo de observar o lugar social dos autores
iremos fazer uma pequena explanação sobre eles. Deleuze nasceu em Paris no ano
de 1925. Estudou filosofia na Sorbonne, onde conseguiu conquistar o diploma de
Estudos Superiores no ano de 1947. Lecionou nos liceus de Amiens, Orléans e
Louir-Le-Grand. Durante os anos de 1969 a 1987, foi professor na Universidade
de Vincennes onde conheceu Guattari. Felix Guattari nasceu em 1930 em Paris, foi um
importante filósofo e psicanalista francês. O encontro entre os dois
intelectuais resultou na criação de diversas obras.
Sobre a organização do livro referente à sua estrutura
vemos que ele está dividido em nove capítulos nesta respectiva ordem: Conteúdo e expressão; Um Édipo exagerado;
O que é uma literatura menor; As componentes da expressão; Imanência e desejo;
Proliferação das séries; Os conectores; Blocos, séries, intensidades; O que é
um agenciamento? A obra Foi traduzida por Cintia Vieira da Silva e publicada
pela Editora Autêntica. É um livro de primeira edição que foi impresso no ano
2017.
Em Kafka: por
uma literatura menor os autores realizam uma interpretação de uma nova
literatura, de uma produção que possui várias entradas, uma máquina de produção
de sentidos, seria está, pois, uma literatura menor. Entretanto, como primeiro
ponto, vale destacar que, quando nos referimos em literatura menor, não podemos
defini-la enquanto pertencente a um conjunto de número pequeno, mas pela
distância que ela tem em relação a uma determinada característica dominante,
portanto, podemos definir como minoria o grupo de elementos que representam a
multiplicidade e a maioria é referente a um conjunto correspondente a
generalidade normalizadora e global.
Sendo assim, a literatura menor, considerada como um
rizoma, não pertence a uma língua menor, ela pertence a uma língua que uma
minoria constrói em uma língua maior sendo afetada pela desterritorialização,
está é a sua primeira característica. A segunda é que nesse tipo de literatura
tudo é político indo contra a corrente das literaturas maiores que tende a ser
individual. Na literatura menor os espaços fazem com que o individual esteja
fortemente ligado à política. Com isso uma questão familiar, por exemplo, faria
conexões não apenas com o particular, porém também com outras áreas como o
comercial, o econômico, o jurídico, entre outros. E a terceira característica é
a ação coletiva, pois a literatura encontra-se responsável por carregar
positivamente a função de enunciação coletiva e revolucionária ao forjar meios
de outras consciências, representações, identidades e sensibilidades.
A
literatura revolucionária terá início com a anunciação, ela que tem como
finalidade provocar rupturas, deixar marcas e produzir reflexões. Será uma
máquina de guerra pronta para dar a voz aos silenciados pelo discurso da norma
e da legitimação, pela representação engessada. Portanto, nunca, em nenhuma
hipótese, a literatura deve ser considerada como um objeto neutro, isto é, como
um enredo sem intencionalidades. Nesta perspectiva, a literatura é luz, expressão,
força, luta, política e armamento de guerra. O autor não foge a regra, visto
que, ele é o responsável por produzir a literatura. O autor ao assumir as
vestimentas de criador da narrativa literária passa a ser o articulador de toda
essa teia de expressividades em suas mãos, desta maquinaria tão expressiva e
poderosa.
Fazer a
avaliação de uma obra exige bastante do leitor, ainda mais quando se trata de
um livro tão complexo como Kafka: por uma
literatura menor. Ele não é uma leitura fácil de ser feita, porque, para
uma compreensão mais ampla e eficaz de sua produção seria interessante que o
leitor tivesse um conhecimento prévio acerca das obras de Kafka que são citadas
e exemplificadas ao longo de toda a obra como, por exemplo, a Metamorfose e o Processo.
Contudo, ao trazer à luz a temática da literatura
menor os autores o fazem de maneira extraordinária, nós fazendo refletir em
cada linha e nas entrelinhas sobre a temática transcorrida durante as páginas.
E o mais interessante é que toda esta reflexão pode transbordar o campo da
literatura e levar-nos a pensar a questão menor e minoria em outros âmbitos da
sociedade como, por exemplo, o escolar, que é por maestria o campo principal de
atuação de todo estudante de licenciatura. Assim, poderemos enxergar com mais
criticidade as pluralidades existentes na sala de aula e dar voz e ouvidos para
que elas sejam além de pronunciadas, ouvidas.
Por todos estes motivos elencados anteriormente
recomendo esta obra para os estudantes de licenciatura das mais variadas áreas
de conhecimento: história, letras, filosofia, sociologia, entre outras, para
que possam questionar, através dessa narrativa, a função e o poder que a
literatura tem sobre a sociedade, assim como ajudá-los a refletir, a ter uma
visão cada vez mais ampliada da sociedade e de suas pluralidades, representações,
identidades, entendendo que elas não podem ser representadas por apenas uma
ideia, uma norma, mas que também merecem espaço e voz.
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