sexta-feira, 10 de abril de 2020

USOS DOS DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS NA HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA.

 A História metódica, corrente emergente no século XIX, teve a sua historiografia marcada por uma construção narrativa que estava pautada apenas em documentos oficiais ou fontes históricas, por isso, no século XX, ela foi fortemente criticada pelo materialismo histórico e as escolas dos Annales. A primeira fez contribuições de bastante validade ao colocar em xeque os discursos dos documentos, porque passou a observar que eles estavam carregados de ideologias que buscavam defender interesses sociais, políticos, entre outros. Isto é, queria defender valores de uma classe.


E a última, a Escola dos Annales, tornou-se bastante importante, pois mudou a maneira na qual escrevemos a história. Ela foi a responsável por ampliar consideravelmente a noção de documento, abrangendo o que poderia ser usado, pelo historiador, como objeto de pesquisa histórica. Desse modo, uma característica comum a ambas correntes é que elas buscavam trazer à tona discurso e pronunciamentos daqueles que, até então, estavam esquecidos pela história, que não tinham voz e muito menos importância nos registros e nos enredos.
Posteriormente, após muitas contribuições de pensadores como Paul Ricoeur, Michel Foucault, Hayden, Roland Barthes, Michel de Certeau, e outros, além dos impactos causados pelo diálogo da história com outros campos de conhecimento, consequentemente como resultado houve mudanças na maneira com a qual os historiadores costumavam interrogar e descrever os documentos. Os discursos e pronunciamentos, por exemplo, são, a partir dessas transformações, entendidos como monumentos.
Eles deixaram de ser vistos como aquilo que traz o passado, para serem percebido como objetos que são interrogados enquanto as suas próprias produções, enquanto discursos promovidos para passarem efeitos de verdades. Sendo assim, o historiador deve questionar quais as informações que o documento aborda, como e por quem ele foi produzido. Seria a busca pelo lugar social do autor, conceito abordado por Certeau, para entender quais as forças que movem e silenciam as teceduras produzidas por aquele lugar de fala.
A análise dos discursos e pronunciamentos devem ter como critério dois tipos de análises: A externa e a interna. Ambos têm como funcionalidade investigar as marcas temporais, rastros que foram deixados na produção dos documentos. A análise externa se preocupa em questionar o documento sobre a sua relação com aquilo que o cerca observando os elementos culturais, sociais, políticos, entre outros, que ele carrega.
Já a análise interna tem como pressuposto que o discurso não é transparente, ele tem uma estrutura própria que segue regras gramaticais, estruturas linguísticas e condições de produções que devem ser observadas e interrogadas. Por meio da análise interna podemos conseguir identificar o período em que certo documento foi escrito através da comparação com outros documentos nos quais temos a certeza da data de sua produção.
As análises das fontes são de extrema importância e, inclusive, não apenas para questionarmos sobre a produção da escrita da história, mas também para pesarmos o porquê de alguns documentos terem sido guardados e outros não. Ou, até mesmo, nos questionarmos qual é o motivo que leva um discurso a ser publicado por determinado meio e por não ser publicado por outro difusor. A questão que deve estar à tona é: qual é a relação do autor do discurso com a plataforma que o reproduziu? Devemos estar sempre atentos às especificidades visto que ele sempre terá uma relação com as instituições que o produzem e o preservam. Portanto, nenhum documento chegado até nós pode ser considerado inocente enquanto a sua preservação.
Em relação à pesquisa histórica devemos sempre iniciar a partir da definição de uma temática, posteriormente, deve ser iniciada uma pesquisa exploratória para que possa ser encontrado o problema de investigação. Depois de ser identificado o problema, este deve ser delimitado, enquanto espaço e tempo, para que possamos iniciar o levantamento das documentações que podem ser encontrados em diversas instituições, arquivos e, inclusive, na internet. A busca das fontes irá depender exclusivamente do tipo de pesquisa que será realizado pelo pesquisador.
Após verificar o acervo que guarda os documentos, que serão utilizados, será feita a seleção e a contextualização de cada um dos discursos. Nesse processo será muito importante identificar as maneiras nas quais eles estavam organizados também observando o suporte em que eles estavam materializados, isto é, em que tipo de papel o documento foi produzido, se eles estavam manuscritos ou datilografados, se havia algum tipo de anotação, carimbo, símbolos, e etc. O pesquisador deve ter em mente que toda a informação que a fonte venha trazer é importante, pois nada está nela por acaso.
Quando estiver com todos os documentos em mãos o pesquisador deverá realizar a análise externa e interna, identificando e realizando a pesquisa sobre o momento histórico em que os discursos foram produzidos assim como a busca pelas informações acerca da biografia de quem os produziu. Caberá ao pesquisador edificar os problemas que o documento aborda e os objetivos que ele quer alcançar. Deve anotar regularidades discursivas, comparar com outros discursos proferidos pelo mesmo autor na mesma época, definir como o autor construiu a imagem de si e dos outros. Seguindo esse sistema o pesquisador poderá definir como em um dado momento histórico o objeto pode emergir.

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