E a última, a Escola dos Annales, tornou-se bastante
importante, pois mudou a maneira na qual escrevemos a história. Ela foi a
responsável por ampliar consideravelmente a noção de documento, abrangendo o
que poderia ser usado, pelo historiador, como objeto de pesquisa histórica.
Desse modo, uma característica comum a ambas correntes é que elas buscavam trazer
à tona discurso e pronunciamentos daqueles que, até então, estavam esquecidos
pela história, que não tinham voz e muito menos importância nos registros e nos
enredos.
Posteriormente, após muitas contribuições de
pensadores como Paul Ricoeur, Michel Foucault, Hayden, Roland Barthes, Michel
de Certeau, e outros, além dos impactos causados pelo diálogo da história com
outros campos de conhecimento, consequentemente como resultado houve mudanças na
maneira com a qual os historiadores costumavam interrogar e descrever os
documentos. Os discursos e pronunciamentos, por exemplo, são, a partir dessas
transformações, entendidos como monumentos.
Eles deixaram de ser vistos como aquilo que traz o
passado, para serem percebido como objetos que são interrogados enquanto as suas
próprias produções, enquanto discursos promovidos para passarem efeitos de
verdades. Sendo assim, o historiador deve questionar quais as informações que o
documento aborda, como e por quem ele foi produzido. Seria a busca pelo lugar
social do autor, conceito abordado por Certeau, para entender quais as forças
que movem e silenciam as teceduras produzidas por aquele lugar de fala.
A análise dos discursos e pronunciamentos devem ter
como critério dois tipos de análises: A externa e a interna. Ambos têm como
funcionalidade investigar as marcas temporais, rastros que foram deixados na
produção dos documentos. A análise externa se preocupa em questionar o
documento sobre a sua relação com aquilo que o cerca observando os elementos
culturais, sociais, políticos, entre outros, que ele carrega.
Já a análise interna tem como pressuposto que o
discurso não é transparente, ele tem uma estrutura própria que segue regras
gramaticais, estruturas linguísticas e condições de produções que devem ser
observadas e interrogadas. Por meio da análise interna podemos conseguir
identificar o período em que certo documento foi escrito através da comparação
com outros documentos nos quais temos a certeza da data de sua produção.
As análises das fontes são de extrema importância e,
inclusive, não apenas para questionarmos sobre a produção da escrita da
história, mas também para pesarmos o porquê de alguns documentos terem sido
guardados e outros não. Ou, até mesmo, nos questionarmos qual é o motivo que
leva um discurso a ser publicado por determinado meio e por não ser publicado
por outro difusor. A questão que deve estar à tona é: qual é a relação do autor
do discurso com a plataforma que o reproduziu? Devemos estar sempre atentos às
especificidades visto que ele sempre terá uma relação com as instituições que o
produzem e o preservam. Portanto, nenhum documento chegado até nós pode ser
considerado inocente enquanto a sua preservação.
Em relação à pesquisa histórica devemos sempre
iniciar a partir da definição de uma temática, posteriormente, deve ser
iniciada uma pesquisa exploratória para que possa ser encontrado o problema de
investigação. Depois de ser identificado o problema, este deve ser delimitado,
enquanto espaço e tempo, para que possamos iniciar o levantamento das
documentações que podem ser encontrados em diversas instituições, arquivos e,
inclusive, na internet. A busca das fontes irá depender exclusivamente do tipo
de pesquisa que será realizado pelo pesquisador.
Após verificar o acervo que guarda os documentos,
que serão utilizados, será feita a seleção e a contextualização de cada um dos
discursos. Nesse processo será muito importante identificar as maneiras nas
quais eles estavam organizados também observando o suporte em que eles estavam
materializados, isto é, em que tipo de papel o documento foi produzido, se eles
estavam manuscritos ou datilografados, se havia algum tipo de anotação,
carimbo, símbolos, e etc. O pesquisador deve ter em mente que toda a informação
que a fonte venha trazer é importante, pois nada está nela por acaso.
Quando estiver com todos os documentos em mãos o
pesquisador deverá realizar a análise externa e interna, identificando e
realizando a pesquisa sobre o momento histórico em que os discursos foram
produzidos assim como a busca pelas informações acerca da biografia de quem os
produziu. Caberá ao pesquisador edificar os problemas que o documento aborda e
os objetivos que ele quer alcançar. Deve anotar regularidades discursivas,
comparar com outros discursos proferidos pelo mesmo autor na mesma época,
definir como o autor construiu a imagem de si e dos outros. Seguindo esse
sistema o pesquisador poderá definir como em um dado momento histórico o objeto
pode emergir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário