A construção
da identidade não é algo natural. É uma construção produzida em um local
determinado, é partilhada por um grupo e por uma cultura composta de diversas
práticas cotidianas, portanto, ela é relacional, dinâmica e histórica. A
produção da identidade não ocorre do dia para a noite, não é definida por um
comitê, ela vai se construindo através de práticas culturais, relações entre
povos, jogos de poder, ao longo do temo.
O homem já nasce
em uma cultura pré-definida e vai sendo moldado nela, absorvendo as verdades
que vão se constituindo através da crítica de todos os discursos institucionais
que o sujeito escuta durante a sua vida. O homem morre, porém a conservação da
identidade, plural e diversificada, prossegue. É uma marca deixada pelo se
humano da sua passagem pela terra. Não conseguimos viver sem classificar as
pessoas e ordenar as coisas ou sem comparar o eu e o outro. E esta comparação é
realizada de acordo com as diferença entre as identidades.
Só sabemos que
existe uma diversidade de identidades devido à existência de outras identidades
que marcam, evidenciam as diferenças, por isso, a relação com o outro é
fundamental para a percepção dos grupos e, consequentemente, para marcar a
exclusão. Isto, porque, dependendo dos conjuntos simbólicos que uma pessoa
carrega podemos definir se ela pertence ou não a determinada identidade, então,
nós podemos inclui-la ou exclui-la a determinado campo de pertencimento.
Para pertencer a
uma identidade o individuo tem por obrigação fazer uso de objetos, de materiais
que possuem sua carga de significados para eles, o que pode provocar conflitos
entre identidades distintas, como bem coloca Woodward:
O cigarro [usados pelos servos e
croatas] funciona, assim, neste caso, como um significante [grifo nosso] importante da diferença e da identidade
e, além disso, como um significante que é, com frequência, associado à
masculinidade (tal como na canção dos Rolling Stones, “Satisfaction”: “Bem, ele
não pode ser um homem porque não fuma os mesmos cigarros que eu”) [...] O homem
da milícia sérvia é explicito quanto a essa referência, mas menos direto quanto
a outros significantes da identidade, tais como as associações com a
sofisticação da cultura europeia [...] (WOODWARD, 2014, 10 p.).
O trecho acima
nos chama a atenção, inclusive, há outro aspecto da identidade de uma nação: as
questões de gênero. As maiorias das identidades estão ligadas as concepções de
gênero, em que a força da influencia gira principalmente de maneira mais forte
em torno das concepções militarista da masculinidade. Deste modo, as mulheres
ocupam um espaço secundário tendo em vista que até mesmo a ideia do que é ser
mulher, ser feminina, mãe, filha, irmã, foi construída de acordo com as
posições de sujeito que o homem define para mulher. Nesta definição ele toma
como pressuposto os padrões do que é ser masculino para definir o que é ser
feminino, entrando, nesse contexto, mais uma vez, o outro, o diferente, para a
percepção das múltiplas identidades, como bem aponta Woodward (2014):
A única menção a mulheres, neste
caso, é às “garotas” que eles “namoravam”, ou melhor, que foram “namoradas” no
passado, antes do surgimento do conflito. As mulheres são os significantes de
uma identidade masculina partilhada, mas agora fragmentada e reconstruída,
formando identidades nacionais distintas, opostas. Neste momento histórico
específico, as diferenças entre os homens são maiores que quaisquer
similaridades, uma vez que o foco está colocado nas identidades nacionais em
conflito. A identidade é marcada pela diferença, mas parece que algumas
diferenças - neste caso entre grupos étnicos - são vistas como mais importantes
que outras, especialmente em lugares particulares e em momentos particulares
(WOODWARD, 2014, 9-10 p.).
Portanto, pensar
o outro sempre será uma comparação entre mundos. E estes mundos estão, a cada
dia, mais próximos devido ao advento da globalização. Atualmente é possível,
principalmente, nas grandes metrópoles e capitais, termos a disponibilidade de
frequentar lojas e restaurantes que trazem elementos físicos e degustativos de
outras regiões do mundo. Um contato mais próximo com o outro e a sua
identidade.
Porém, de
maneira geral, o cinema é um ponto central no deslocamento cultural visto que
as imagens exibidas nas telas produzem diversos significados simbólicos que
provocam desejos conscientes e inconscientes pela identidade do outro. Ele é
uma ferramenta que nos desloca para a realidade do outro mesmo que este não
esteja presente. Estes leques de representações de identidades revelam relações
de poder, é um jogo entre culturas, em que as forças definem que identidades
serão incluídas ou excluídas no jogo politico, assim como definem as
identidades consideradas superiores e as que serão consideradas inferiores.
discuta
sobre os modelos de análise, mas também sobre os efeitos culturais, simbólicos
e políticos da produção da alteridade em relações de poder difusas, mas
articuladas a estratégias de governo ou intervenção na vida pública. Quem é o
outro? E por quais razões se pode pensar que ele é “uma ausência
permanentemente presente” no mundo contemporâneo e no cenário educacional?
Quando partimos
para o campo educacional
Por que falar
dessas definições de professores para pensar o outro e a sua ausência presente
no cenário de educação atual? Porque o professor ao analisar a educação com a
ótica do presente vai levar em consideração os seus pressupostos culturais, a
sua identidade particular, portanto, identificar as misérias das salas de aula
com o olhar selecionador, com uma peneira que escolhe apenas aquilo que a sua
identidade permite pensar como ruim. Assim, não apenas os professores, mas
todos nos vemos:
o Outro, não de qualquer maneira,
mas a partir do nosso patrimônio, a partir de nossa Consciência Humanitária,
isto é, como “vítima” – a ser socorrida, com a qual solidariza-se, a ser
liberada, à qual deve ser concedida a palavra, a ser integrada – ou como
“culpável” – que deve ser desmascarada,
denunciada, dissuadida, perseguida, expulsa e justiçada – garantindo-nos assim
o espetáculo de um Ocidente comprometido com “os direitos do homem” e com a
humanização do mundo. (81 p.)
Pensar o outro
com o olhar de alteridade é pensar o outro como objeto de ação que pode nos
proporcionar, através do seu lugar de diferença, novos conhecimentos. No
ocidente a identidade do outro, de uma cultura diferente poder ser capaz de
emergir, mas diante de uma seleção em que nos o identificamos, registramos, o
fazemos visíveis, apontamos as suas semelhanças e diferenças, que são
cuidadosamente observados. Mas, nessa relação de escolher e definir há uma
troca, pois ao mesmo tempo em que estamos observando a cultura do outro também
o estamos dando um pouco da nossa cultura, inserindo “nossa miséria, nossa
soberba, nossa arbitrariedade, nossa mortalidade e nossa finitude” (PLACER,
2001, 88 p.). Sendo assim, para pensá-lo temos que entender a nós mesmo,
identificar sobre o que cremos, quem somos, nos revelarmos.